“Cantai ao Senhor um canto novo, cantai ao Senhor, terra inteira!” (Sl 96,1).
Esse convite do salmista nos impulsiona a renovar nossa vida, a transformar nossa maneira de nos relacionar com Deus e com o mundo. Mas o que significa, de fato, cantar um canto novo ao Senhor? Não se trata apenas de entoar uma nova melodia, mas de tentar novamente, de um jeito diferente.
Quantas vezes insistimos nos mesmos pedidos, nas mesmas orações que parecem não ser atendidas? Repetimos as súplicas, esperando que algo mude, sem perceber que talvez seja nossa postura que precise mudar. Ao invés de pedir tanto, que tal agradecer mais? Ao invés de esperar tanto de Deus, que tal nos colocarmos à disposição para sermos resposta na vida de alguém?
Cantar um canto novo significa sair do automatismo da fé, da busca incessante por soluções pessoais, e olhar para além de nós mesmos. Como nos ensina o filósofo judeu Emmanuel Levinas, nossa humanidade se revela no cuidado com o rosto do outro. Quando acolhemos, escutamos e amamos aqueles que estão próximos, estamos, de fato, vivendo uma espiritualidade renovada.
Talvez Deus esteja nos chamando a modificar nossa forma de orar, de agir e de viver. E esse canto novo nasce quando trocamos a lamentação pela confiança, a angústia pela esperança e o egoísmo pela caridade. Quando aprendemos a ver Deus não apenas na resposta direta às nossas súplicas, mas na graça do dia a dia, na oportunidade de recomeçar, na presença do outro que nos desafia a amar.
Que possamos, a cada dia, cantar ao Senhor esse canto novo. Não um cântico qualquer, mas aquele que nasce de um coração renovado pela gratidão, pelo serviço e pelo amor.
