A verdadeira amizade: um caminho que aponta para o alto

Olá querido leitor do Fala Rio, eu sou o Padre Fábio Escobar. Vamos falar sobre amizade?

Falar sobre amizade é quase sempre entrar em território afetivo. Quem de nós não guarda na memória — ou no coração — o nome de alguém com quem dividiu a infância, a juventude, os segredos, as dores e as vitórias? Mas a pergunta que nos interpela de forma mais profunda é: o que torna uma amizade verdadeira?

O filósofo Leandro Karnal, em uma de suas reflexões mais provocadoras sobre o tema, diz algo que deveria nos fazer pensar com mais seriedade: o verdadeiro amigo é aquele que se alegra com as nossas vitórias. Parece simples, mas não é. Sofrer com a dor alheia é humano, quase automático — um instinto de compaixão. Mas alegrar-se verdadeiramente com a felicidade do outro, com sua promoção, seu casamento, sua superação, sua conquista… isso é para poucos. Exige grandeza de alma. Exige um coração limpo de invejas e rivalidades.

Nesse ponto, talvez caiba olhar para um exemplo que vem do Evangelho e que inspira até os que não compartilham da fé cristã: a amizade entre Jesus e a família de Betânia — Marta, Maria e Lázaro. Os três irmãos são apresentados nos textos bíblicos como pessoas próximas, íntimas de Jesus. Em suas visitas a Betânia, Jesus encontrava um lar, uma mesa, uma escuta. E mais: encontrou neles amigos com quem podia contar, mesmo diante do drama da morte.

Quando Lázaro morreu, as irmãs enviaram um recado: “Senhor, aquele que amas está doente.” Não havia cerimônia: havia intimidade. Jesus, ao chegar, chorou diante do túmulo. Chorou não porque ignorava o que faria a seguir, mas porque a dor dos amigos tocava sua humanidade. Jesus sabia o nome dos seus amigos. Sabia onde moravam. Sabia que ali, naquela casa, havia gente que o amava não por interesse, mas por relação.

Amizades assim não são comuns. E, talvez por isso mesmo, sejam tão preciosas. Em tempos de redes sociais, onde “amigo” é um termo inflacionado por algoritmos e interações superficiais, redescobrir o valor de quem caminha conosco com lealdade, silêncio e verdade é uma urgência.

O verdadeiro amigo — aquele que nos aponta para o alto, que nos desafia a sermos melhores, que nos puxa quando caímos e celebra quando vencemos — é um presente raro. E se, por acaso, você tem ao menos um amigo assim, cuide. Cultive. Agradeça.

Porque, no fim das contas, talvez a verdadeira amizade seja isso: alguém que, ao olhar nossas vitórias, sorri com sinceridade — e ao ver nossos tropeços, permanece ao lado, sem fazer alarde.

Em tempos líquidos, amizades sólidas são quase milagres. Que saibamos reconhecê-las.

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