Preço do Café Dispara: Uma Questão de Mercado e Clima

O café, bebida indispensável para milhões de pessoas, enfrenta uma crise de preços que pode torná-lo um produto de luxo. A combinação de mudanças climáticas e fatores de mercado tem levado a um aumento significativo no custo do grão, afetando toda a cadeia produtiva, desde os agricultores até os consumidores finais.

Nas regiões montanhosas de Chiapas, no sul do México, agricultores como Tomas Edelmann enfrentam desafios cada vez maiores. Edelmann, um produtor de café de quarta geração, explica que, apesar dos métodos de cultivo mais resistentes, as mudanças climáticas estão dificultando a produção. “Se você não tiver o clima certo, não terá a produção certa. E com rendimentos baixos, obviamente seu custo de produção sobe”, diz Edelmann.

Esses custos elevados se refletem diretamente nos preços ao consumidor. Segundo especialistas, a cotação do café atingiu recentemente o maior valor em mais de uma década, com o Preço Indicador Composto atingindo uma média de US$ 2,27 por libra. Ryan Delany, da Coffee Trading Academy, aponta que a oferta global de café não é suficiente para atender à demanda, exacerbando a situação.

Michael Hoffmann, da Universidade Cornell, destaca que o café é extremamente sensível a mudanças de temperatura, e os eventos climáticos recentes têm prejudicado ainda mais a produção. “A mudança climática está piorando. Imagine um clima mais severo, temperaturas mais altas e o efeito direto sobre as pessoas que trabalham nas plantações de café”, afirma Hoffmann.

O Brasil, maior produtor de Arábica, também sofreu com as adversidades climáticas. A geada excepcionalmente forte de 2021 afetou drasticamente as plantações, causando um choque imediato na oferta e elevando os preços. Além disso, a seca no Vietnã, maior produtor de Robusta, também contribuiu para a diminuição da oferta global.

Neil Rosser, da Bison Luxley Commodities, observa que os custos crescentes do Robusta estão elevando o preço geral do café. “Há uma batida de tambor no fundo que é a mudança climática, e isso está causando problemas”, diz Rosser, destacando que essa instabilidade não desaparecerá tão cedo.

Grandes empresas do setor já sentem a pressão. A Lavazza, fabricante italiana de café, aumentou os preços este ano devido a uma combinação de colheitas ruins, mudanças climáticas, a guerra na Ucrânia e a valorização do dólar. A Nestlé, dona da Nescafé, relatou uma queda na margem de lucro devido ao aumento nos custos da Robusta.

Para os consumidores, a situação é preocupante. Embora grandes redes como a Starbucks possam temporariamente proteger seus clientes das oscilações do mercado com contratos de preço fixo, especialistas alertam que, se os custos continuarem altos, aumentos nos preços ao consumidor serão inevitáveis.

Apesar dos desafios, a demanda por café permanece forte. “Se você toma seu café todas as manhãs, então você toma seu café todas as manhãs”, afirma Delany. Mesmo com os preços em alta, a relação dos consumidores com o café parece inabalável.

Em resumo, a crise no mercado do café é um reflexo das complexas interações entre mudanças climáticas e fatores econômicos. Com os preços em alta e a oferta ameaçada, o café pode se tornar um produto cada vez mais caro, impactando milhões de consumidores ao redor do mundo.

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