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Como a briga com Bolsonaro ajuda Macron a se autopromover na França

Emmanuel Macron, presidente da França, e Jair Bolsonaro entraram em conflito público nos últimos dias, trocando acusações e ofensas que colocaram em pauta o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, a soberania do Brasil sobre a Amazônia e até as aparências físicas das primeiras-damas francesa e brasileira.

Membros do corpo diplomático brasileiro vêm fazendo contatos para amenizar o impacto internacional do conflito. Além disso, o embaixador do Brasil em Paris, Luís Fernando Serra, foi à TV francesa para esclarecer os dados sobre desmatamento e queimadas na Amazônia, destacando que, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, os números eram muito piores.

Bolsonaro e o presidente francês durante o encontro do G-20, em Osaka.© Frederico Mellado/ARG Bolsonaro e o presidente francês durante o encontro do G-20, em Osaka.

Apesar de toda a questão diplomática que envolve o conflito e de seu alcance internacional, o foco principal de Macron ao entrar em choque com Bolsonaro pode não ser a Amazônia, mas o eleitorado francês. Segundo Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a ruptura com Bolsonaro agrada dois espectros antagônicos da população francesa: os agricultores e os ambientalistas.

Com o pacto comercial que está sendo negociado entre UE e Mercosul, o potencial aumento da concorrência de produtos agrícolas brasileiros com os franceses é visto como uma ameaça por agricultores locais. “As manifestações recentes contra ele vieram do campo. Os agricultores franceses, que têm muito medo do acordo com o Mercosul, sentem-se contemplados [com a não-assinatura do acordo]”, diz Stuenkel.

Ao mesmo tempo, o presidente francês pode melhorar suas credenciais com os ambientalistas do país. “O Macron tem feito pouco nesse âmbito. Isso ajuda a ganhar apoio com o movimento verde francês, que é cético em relação a ele”, afirma o professor.

Macron também pode capitalizar com a imagem negativa do presidente brasileiro entre os franceses, especialmente depois que Bolsonaro fez uma piada em um comentário de rede social sobre a aparência de Brigitte Macron, primeira-dama francesa. “Bolsonaro é extremamente impopular na França. Falou mal da primeira-dama, que é muito popular. Atacar o Bolsonaro é popular entre os franceses”, diz Stuenkel.

Primeira-dama da França, Brigitte Macron© Thomas SAMSON/AFP Primeira-dama da França, Brigitte Macron

Antes, já havia uma predisposição de certos grupos políticos da União Europeia para rechaçar o acordo com o Mercosul. A questão ambiental no Brasil, segundo o professor, era o pretexto de que necessitavam.

“A incerteza em relação ao acordo não aumentou porque alguns mudaram de lado, mas porque aqueles que já eram contra antes se sentiram fortalecidos. Agora, há uma razão clara para dizer: ‘não podemos trabalhar com eles’. A França identificou isso como uma área em que pode assumir liderança global”, explica Stuenkel.

VIA: Gazeta do Povo | Por Leonardo Desideri

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