Por que cerca de 300 mulheres indígenas ocupam prédio do governo em Brasília

Cerca de 300 mulheres indígenas ocupam desde a manhã desta segunda-feira (12) o prédio da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em Brasília, para chamar a atenção do governo Jair Bolsonaro para a saúde indígena e protestar contra a municipalização dos serviços de saúde à esta população.

Segundo o jornal Correio Braziliense, um grupo chegou em marcha ao local, no Setor de Rádio e TV Norte, por volta das 10h. Seguranças tentaram conter a manifestação, mas mulheres furaram bloqueio e ocuparam o prédio, onde também funciona a Senai (Secretaria de Saúde Indígena).

Célia Xakriabá, representante da Apib (Associação dos Povos Indígenas) e uma das coordenadoras da marcha, disse ao HuffPost Brasil que uma reunião com representantes do Ministério da Saúde é esperada até o fim desta segunda. Caso não aconteça, elas pretendem dormir no local.

A ideia é dialogar sobre as demandas do movimento com a chefe da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena), Silvia Waiãpi, que é indígena e militar, na presença do ministro da saúde, Luiz Mandetta. Lideranças reivindicam melhorias e protestam contra a municipalização da saúde indígena.

No início de agosto, o governo publicou uma medida provisória que cria o programa “Médicos pelo Brasil”, em substituição ao programa “Mais Médicos”,  lançado em 2013 pela ex-presidente Dilma Rousseff.

O movimento indígena alega que, com esta medida, o governo visa privatizar serviços oferecidos pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS), incluindo a Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena. O temor é que a municipalização resulte no desmantelamento do sistema e na pulverização do atendimento de saúde dos índios, com prejuízo para essas populações.

Segundo a MP, é previsto que indígenas sejam atendidos em centros de saúde urbanos, junto aos demais cidadãos. Atualmente, o atendimento é feito nas próprias aldeias com treinamento específico de profissionais. Lideranças alegam que isso é algo que pode elevar o número de mortes e doenças.

“Estamos fazendo uma frente em defesa da saúde indígena e contra essa proposta ameaçadora da municipalização da saúde; fazemos frente ao direito a ocupar o território pensando em nosso modo de vida, de viver, de fazer gestão, pensando também no nosso direito à educação”, pontua Xakriabá ao HuffPost.

O HuffPost Brasil tentou contato com a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e com a Senai, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

“Nosso corpo, nosso espírito”
© Fornecido por Oath Inc. 1ª Marcha das Mulheres Indígenas acontece deste o último dia 9, em Brasília.Lideranças femininas de cerca de 110 povos estão reunidas em Brasília desde o último dia 9 para um fórum e uma marcha de “resistência”. O tema deste ano é “Território: nosso corpo, nosso espírito”; o evento segue até o próximo dia 14, quando indígenas se juntarão à Marcha das Margaridas, também em Brasília.

Cerca de 448 mil mulheres indígenas vivem no Brasil, entre 305 povos espalhados pelo território nacional, segundo dados de 2010 do IBGE.  A organização informa que cerca de 1.500 mulheres de 110 aldeias do Brasil participam da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas no País.

“A gente acredita que tem um papel muito importante na defesa do nosso território. E o que é esse território? É tudo que cabe aos nossos povos, é a nossa cultura. E hoje se torna mais necessário de mostrar que nós, mulheres, estamos nesses territórios que estão ameaçados”, afirma Maura Arapiun, 23, membro do Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns ao HuffPost Brasil.
Já no dia 14, duas forças de mobilização se encontram: a Marcha das Mulheres Indígenas se junta à Marcha das Margaridas, realizada desde 2000 pelas mulheres do campo — quilombolas, ribeirinhas, trabalhadoras rurais e que combatem a mineração e seus efeitos. São esperadas 100 mil mulheres.
Esta será a sexta vez em que as “margaridas” marcham – e a primeira vez ao lado das indígenas. Neste ano, o tema escolhido pela organização foi “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”.

A marcha é uma homenagem à sindicalista Maria Margarida Alves, assassinada em 12 de agosto de 1983, a mando de latifundiários de Alagoa Grande, na Paraíba. Na época, ela presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

VIA: HUFFPOST

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