Presidente da Alerj afirmou que relação com ex-deputado era apenas institucional e admitiu ter conversado com ele na véspera da prisão
Em depoimento à Polícia Federal (PF), o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar, negou qualquer relação de amizade com o ex-deputado estadual TH Joias, preso em setembro sob acusações de tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e ligação com o Comando Vermelho. O depoimento, revelado neste domingo (7) pelo Fantástico, da TV Globo, faz parte da investigação que levou Bacellar a ser detido na última quarta-feira (3), suspeito de alertar o parlamentar sobre a operação que terminaria em sua prisão.
Bacellar declarou à PF que só passou a ter contato com TH Joias após sua entrada na Assembleia.
— Nunca tinha visto na vida antes dele entrar na Alerj. Construí uma relação natural, sou presidente do Parlamento, tenho que atender todos indistintamente. Mas a relação era só profissional e naquele âmbito da Assembleia — afirmou.
O presidente da Alerj admitiu que conversou com o ex-parlamentar na véspera da operação da PF. Segundo o depoimento, TH Joias o procurou preocupado com rumores sobre uma possível ação policial direcionada a deputados.
— Ele pergunta: “Tá sabendo de alguma operação amanhã pra mim?” Eu disse que não sabia de nada, só de boatos que circulavam há dias. Ele disse que não sabia se ficava ou se ia embora. Eu respondi: “Aí é com você. Eu, no seu lugar, só me preocuparia com a tua filha pequena” — relatou Bacellar.
Troca de mensagens
Além da conversa pessoal, os dois trocaram mensagens na noite anterior à operação. Em um dos vídeos enviados por TH Joias, ele mostra um freezer cheio de carnes e comenta:
“Ô presida! Não tem como levar, não, irmão… Esses filhos da p vão roubar as carnes.”*
Bacellar respondeu: “Deixa, doido.”
O presidente da Alerj também confirmou ter recebido imagens enviadas pelo próprio ex-deputado mostrando a Polícia Federal dentro de sua casa. Questionado se pensou em avisar as autoridades sobre a possível fuga de TH Joias, Bacellar disse que não.
— Não procurei absolutamente ninguém. Não estou aqui para entregar um colega, nem para proteger um colega que faz algo errado. Confesso que me assustei. Achei um ato de impertinência ele me ligar de um telefone que eu não tinha — afirmou.
“Não sabia para quem era a operação”, diz Bacellar
O presidente da Alerj negou que tivesse conhecimento prévio das acusações que recaíam sobre o ex-parlamentar.
— Já tinha ouvido algumas coisas no jornal, mas nada concreto. O pessoal fala que é ligado ao comando, sei lá. Olha, não quero saber o que você fez. Da porta para dentro, se tiver bom convívio com todo mundo, o que você faz na rua não me diz respeito — declarou.
A Polícia Federal seguirá analisando os depoimentos e as mensagens trocadas entre os dois para determinar se houve interferência na operação ou tentativa de obstrução da Justiça.


