A novela envolvendo a licitação do Guandu 2, nova estação de tratamento de água em Nova Iguaçu, ganhou um novo capítulo nesta semana. O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Christiano Lacerda Ghuerren, que havia suspendido o processo, decidiu voltar atrás e autorizou a continuidade da concorrência pública.
O investimento previsto é de R$ 1,7 bilhão e deve beneficiar diretamente cerca de 4 milhões de moradores da Baixada Fluminense. O impasse surgiu porque técnicos do TCE apontaram falhas na apresentação dos custos da obra — principalmente em contratos que somavam R$ 861 milhões. A Cedae alegou que não conseguiu obter orçamentos individuais no mercado e, por isso, agrupou os valores por blocos. Após as explicações, o conselheiro aceitou os argumentos, mas cobrou mais transparência em futuras licitações.
Antes do recuo, o governador Cláudio Castro (PL) fez um discurso duro contra Ghuerren durante um evento na Baixada. Visivelmente exaltado, acusou o conselheiro de prejudicar a população por “politicagem” e disse que não se pode paralisar uma obra de tamanha importância quando há recursos já garantidos.
“É uma sacanagem com o povo da Baixada suspender uma obra bilionária que vai levar água para milhões de pessoas. Quem faz isso não sabe o que é abrir a torneira e não ter água em casa”, disparou Castro.
O governador foi além, chegou a usar palavrões e incentivou que a população se manifestasse nas redes sociais do conselheiro. “Todo mundo tinha que ir lá e encher a caixa de mensagem dele. Esses órgãos que não têm um voto do povo precisam ter mais responsabilidade”, afirmou.
Castro ainda desafiou o Tribunal de Contas: “Eu não tenho medo de miliciano, vou ter medo de conselheiro? Tô cagando pra ele.”
As falas do governador repercutiram mal entre membros de órgãos de controle. A Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) e o próprio TCE reagiram às declarações, defendendo a atuação técnica do conselheiro.
Mesmo assim, Castro insistiu que deputados estaduais e federais deveriam tomar providências. Ele citou Carlinhos BNH (PP) e Hélio Lopes (PL), que estavam presentes no evento, e defendeu a abertura de uma CPI para investigar a suspensão da obra.


