A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (10) a Operação Antracito, que apura suspeitas de desvio em contratos de prefeituras fluminenses com a organização social Prima Qualita Saúde. Os acordos, firmados entre 2022 e 2024 para prestação de serviços no Sistema Único de Saúde (SUS), somam R$ 1,6 bilhão.
Auditorias da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) identificaram ausência de critérios objetivos na seleção da OS, falta de comprovação da prestação dos serviços e contratações direcionadas — inclusive envolvendo empresas recém-criadas. Segundo a CGU, R$ 91 milhões desses recursos são federais.
Ao todo, 16 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em sete municípios: Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Saquarema, Rio Bonito, Santa Maria Madalena e Cachoeiras de Macacu. A PF não divulgou os nomes dos alvos da operação.
A investigação, iniciada na Delegacia da PF em Macaé, envolve contratos com prefeituras de cidades como Duque de Caxias, São Gonçalo, Arraial do Cabo, Saquarema, Cachoeiras de Macacu, Santa Maria Madalena, Cordeiro e Quissamã.
Os investigados podem responder por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
O caso ganhou repercussão em agosto de 2023, quando reportagens revelaram que um amigo do então secretário de Saúde de São Gonçalo, Gleison Rocha da Silva, firmou contratos milionários por meio de empresas ligadas ao setor, apesar de ambos terem sido sócios em um estacionamento fictício.
A Report & Tech 2 Consultoria Médica, de Luiz Cesar Faria Alonso Junior, foi contratada pela Prima Qualita Saúde para atuar na UPA Pacheco. O contrato, inicialmente de R$ 5,5 milhões, foi prorrogado, chegando a R$ 11 milhões. Outra organização social, a InSaúde, também contratou a empresa por mais R$ 3 milhões.
Grande parte desses valores foi paga enquanto Gleison e Luiz Cesar ainda eram sócios da Car Doctor Estacionamento, negócio que sequer funcionava de fato. As cotas só foram vendidas após denúncias do Movimento Acredito de São Gonçalo.
Outro indício de irregularidade apontado pelo TCE ocorreu em 2019, quando a Prima Qualita firmou contrato de R$ 1,5 milhão com uma empresa criada apenas quatro dias antes do acordo. As sócias, Tatiana Bozza e Walesca Guerra, eram funcionárias da própria OS, atuando como conselheira e diretora — o que é proibido pela legislação.


