O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), anunciou nesta quarta-feira (3) a exoneração do secretário estadual de Esporte e Lazer, Rafael Picciani (MDB), para que ele reassuma o mandato na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A medida tem efeito imediato: o retorno de Picciani encerra o mandato do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, preso no mesmo dia em uma megaoperação contra o crime organizado.
Com a decisão, TH deixa de ter foro privilegiado e imunidade parlamentar, passando a responder como cidadão comum. O parlamentar, que era o segundo suplente, havia assumido a cadeira em junho do ano passado, após a morte de Otoni de Paula Pai e a recusa de Picciani em herdar a vaga na época, já que integrava o secretariado de Castro.
“Por minha determinação, o deputado estadual Rafael Picciani está retomando seu mandato na Assembleia Legislativa. Ele substitui o deputado estadual TH Joias, preso hoje em ação conjunta das polícias Civil e Federal e do Ministério Público”, declarou o governador em suas redes sociais.
Segundo Castro, a volta de Picciani já estava prevista, mas foi antecipada devido à gravidade das investigações. “O trabalho integrado deixa um recado muito claro: a lei vale para todos”, acrescentou.
Prisão e acusações
TH Joias foi detido em sua residência, na Barra da Tijuca, na manhã desta quarta-feira, em uma operação conjunta do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Polícia Civil e Polícia Federal. Ele é acusado de tráfico internacional de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e fornecimento de armas e acessórios ao Comando Vermelho (CV).
De acordo com as investigações, o deputado mantinha vínculos estáveis com a facção, atuando em áreas controladas pelo grupo, como os complexos da Maré e do Alemão e Parada de Lucas. As denúncias apontam que o esquema envolvia não apenas a venda de drogas e armas, mas também a importação de equipamentos antidrone da China, revendidos inclusive para facções rivais.
O procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, explicou que a prisão foi considerada em flagrante porque, no momento da operação, pessoas ligadas ao CV estavam dentro do gabinete do parlamentar.
Operações simultâneas
A ação que levou à prisão do deputado integrou duas operações simultâneas:
- Operação Zargun: autorizada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, a partir de investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
- Operação Bandeirante: executada pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio, com base em denúncia da Procuradoria-Geral de Justiça do MPRJ.
No total, 15 pessoas foram presas, incluindo policiais militares, um delegado da PF e ex-secretários acusados de colaborar com o esquema criminoso.
O superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão, afirmou que as investigações reuniram “um fartíssimo material probatório”. Segundo ele, “TH vendia e comprava drogas abertamente, em uma relação total de apoio ao Comando Vermelho”.
Já o chefe da Polícia Civil, secretário Felipe Curi, reforçou que o deputado “não estava representando os interesses da população, mas sim da facção criminosa”.
Desgaste político evitado
A decisão do governador de trazer Picciani de volta ao Legislativo evitou que a Alerj tivesse de decidir sobre a prisão do parlamentar. Pelo regimento, o plenário teria até 45 dias para votar pela manutenção ou relaxamento da detenção.
Com a perda automática do mandato, esse rito se tornou desnecessário, acelerando a resposta institucional.
O presidente estadual do MDB, Washington Reis, anunciou a expulsão imediata de TH Joias do partido.


