O governador em exercício do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar (União Brasil), assinou nesta quinta-feira (03) a exoneração do secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB). O ato foi publicado em edição extraordinária do Diário Oficial e marca um ponto de tensão máxima na já fragilizada relação entre aliados do governador Cláudio Castro (PL) e o grupo político do ex-prefeito de Duque de Caxias.

Bacellar comanda o Palácio Guanabara interinamente até o retorno de Castro, que está em Lisboa participando do Fórum Jurídico. A exoneração, no entanto, escancara o racha interno na base governista e parece ter sido calculada para acontecer longe da caneta do titular.
Conflito público e bastidores em ebulição
Washington Reis, que também preside o diretório estadual do MDB, vinha sendo alvo de críticas crescentes por parte de deputados aliados de Bacellar. O motivo: sua recusa em apoiar o candidato escolhido por Castro para a sucessão ao governo estadual, além de frequentes gestos públicos ao principal adversário político do grupo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD).
Mesmo diante da pressão, Cláudio Castro optou pelo silêncio e manteve Reis no cargo até agora. Mas o estopim veio com os últimos movimentos no tabuleiro político de Duque de Caxias — reduto eleitoral da família Reis.
A batalha de Caxias
No fim de semana passado, Bacellar foi recebido com honras pela oposição em Duque de Caxias. Na sexta-feira, posou ao lado do ex-prefeito Zito (Cidadania), principal rival do atual prefeito Netinho Reis (MDB), irmão de Washington. A visita foi vista como provocação direta ao clã dos Reis.
No domingo, Eduardo Paes contra-atacou: publicou um vídeo nas redes sociais ao lado de Washington e Rosenverg Reis durante visita ao projeto Fazenda Paraíso, destinado à recuperação de dependentes químicos. Paes chamou Washington de “o professor dos prefeitos” e elogiou a iniciativa. O gesto foi interpretado como um recado direto a Bacellar — e gerou revolta entre aliados do presidente da Alerj.
CPI da Transparência vira palco da crise
Na segunda-feira, a crise se aprofundou ainda mais. Em sessão extraordinária, Bacellar levou ao plenário a convocação de Washington Reis para depor na CPI da Transparência. A aprovação foi quase unânime — com exceção do voto contrário de Rosenverg Reis, irmão do agora ex-secretário.
Logo após a votação, os dois protagonizaram uma acalorada discussão no plenário. Rosenverg acusou Bacellar de agir como se fosse o governador. A resposta foi direta:
— “Não me confunda com Cláudio Castro”, disparou Bacellar, em tom de desafio. Ele ainda acusou Rosenverg de estar disposto a “destruir o próprio irmão da forma que achasse melhor”.
Instabilidade e tensão pré-eleitoral
A exoneração de Washington Reis aprofunda a instabilidade dentro do governo e evidencia o clima de tensão pré-eleitoral. O racha entre Bacellar e Reis pode ter efeitos colaterais nas alianças regionais, especialmente na Baixada Fluminense, onde os irmãos Reis ainda exercem forte influência.
Enquanto isso, Cláudio Castro observa a crise à distância, de Lisboa, com o desafio de pacificar sua base cada vez mais dividida e garantir governabilidade num cenário que já dá sinais de disputa antecipada pelo poder.


