Por Padre Fábio Escobar
Estamos na última semana da Quaresma. O tempo sagrado em que a Igreja nos convida a mergulhar na conversão, na penitência e na preparação para a Páscoa do Senhor. É tempo de silêncio interior, de oração mais profunda e de escuta atenta da Palavra que transforma. E nessa reta final de caminhada, antes de entrarmos nos mistérios da Semana Santa, somos convidados a voltar o olhar para um sinal que, aos olhos do mundo, pode parecer loucura: a Cruz.
Na liturgia desta semana, encontramos um trecho forte do Antigo Testamento, no livro dos Números 21,4-9. O povo de Israel, cansado e impaciente no deserto, murmura contra Deus e contra Moisés. Como consequência, surgem serpentes venenosas que trazem sofrimento e morte. Mas Deus, em sua infinita misericórdia, orienta Moisés a levantar uma serpente de bronze sobre um poste. Todo aquele que a olhasse com fé seria curado.
Esse episódio é uma prefiguração da Cruz de Cristo. Jesus mesmo nos diz no Evangelho de João: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15). A Cruz é, portanto, o novo sinal de cura, de restauração e de salvação.
Quantas vezes também nós, em nossos desertos pessoais, somos atacados por serpentes invisíveis: o medo, a angústia, a solidão, o pecado. E quantas vezes murmuramos, questionamos, perdemos a fé. Mas a resposta de Deus continua sendo a mesma: olhe para o alto, olhe para a Cruz.
Olhar para a Cruz é um ato de fé. É reconhecer que ali, naquele madeiro, não há derrota, mas vitória. Não há abandono, mas presença. Não há fim, mas começo. A Cruz é o ponto de encontro entre a dor humana e o amor divino. Ali, Jesus assume nossa condição mais frágil e nos mostra que o sofrimento, quando unido ao amor, gera vida nova.
E ao contemplarmos a Cruz, descobrimos que ela não é apenas um objeto litúrgico ou símbolo religioso. Ela é caminho. Ela é escola. Ela é altar. E ela é também resposta: para nossas dores, para nossos porquês, para nossos silêncios. A Cruz é o trono do Rei que veio nos servir com o dom total de si.
Por isso, nesta última semana da Quaresma, convido você a erguer os olhos e contemplar a Cruz. Faça dela sua oração, seu consolo, sua direção. Diante dela, deixe cair as máscaras, as pressas, os pesos. E ali, como filhos e filhas, acolhamos o amor que nos sustenta, nos perdoa e nos envia.
Que essa Cruz nos prepare para viver com mais profundidade o Tríduo Pascal. E que, ao olharmos para ela, sejamos transformados pelo amor que não se cansa de nos buscar.