Em um cenário de valorização global do dólar em 2024, o real brasileiro desponta como a moeda com maior desvalorização entre as principais economias emergentes. A combinação de fatores internos e externos colocou o Brasil no topo desse ranking, evidenciando vulnerabilidades econômicas e políticas que amplificaram o impacto da alta da moeda norte-americana.
Um Cenário Global Desafiador
O fortalecimento do dólar em 2024 foi impulsionado por políticas monetárias restritivas do Federal Reserve (Fed), que elevou os juros nos Estados Unidos para conter a inflação. Esse movimento atraiu investidores para ativos denominados em dólar, considerados mais seguros e rentáveis em tempos de incerteza global.
No entanto, a desvalorização do real foi exacerbada por fatores internos, como instabilidade política, déficit fiscal elevado e incertezas quanto às reformas econômicas. Esses elementos tornaram o Brasil menos atraente para investidores estrangeiros, aumentando a pressão sobre a moeda nacional.
Desvalorização Acentuada
Até dezembro, o real acumulava uma desvalorização superior a 20% frente ao dólar, liderando com folga entre moedas como o peso argentino, a lira turca e o rand sul-africano. Essa queda reflete não apenas a fuga de capitais, mas também uma percepção de risco mais elevada em relação ao Brasil no mercado internacional.
“Embora o dólar tenha se valorizado globalmente, o real se desvalorizou muito além do esperado. Isso está relacionado à dificuldade do governo em transmitir confiança ao mercado, além de uma economia que ainda não conseguiu acelerar consistentemente”, avalia o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Impactos na Economia
A desvalorização do real tem efeitos diretos na economia brasileira. Importações mais caras pressionam a inflação, elevando os preços de bens e serviços. Isso, por sua vez, reduz o poder de compra da população e aumenta o custo de produção para as empresas, que muitas vezes repassam esses custos ao consumidor final.
O cenário também desafia a política monetária do Banco Central, que precisa equilibrar o combate à inflação com a necessidade de evitar uma desaceleração ainda maior da economia.
Perspectivas para 2025
Especialistas apontam que a trajetória do real em 2025 dependerá de uma série de fatores, incluindo a implementação de reformas estruturais, estabilidade política e o comportamento dos mercados globais. Uma eventual desaceleração da economia norte-americana e um afrouxamento da política monetária do Fed poderiam reduzir a pressão sobre o dólar e favorecer moedas emergentes, incluindo o real.
Enquanto isso, o Brasil enfrenta o desafio de reconquistar a confiança dos investidores e criar um ambiente econômico mais favorável para conter a volatilidade cambial. Sem essas medidas, o real pode continuar vulnerável a flutuações externas, com consequências diretas para a economia e o bem-estar da população.