Motorista que salvou passageiros em Petrópolis chora ao lembrar de menino levado pela enxurrada: ‘Também tenho filho. Era tudo que queria ter segurado’

Os motoristas dos dois ônibus que foram arrastados pela enxurrada em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, deram uma declaração comovente sobre como conseguiram resgatar parte dos passageiros durante o temporal de terça-feira (15), que já deixou ao menos 120 mortos. No relato, os profissionais também não conseguiram segurar o choro pelos que foram levados pela água, como mostram imagens fortes feitas no momento da tragédia.

Carlos Alberto Nascimento, que completou 52 anos nesta quinta-feira (17), conduzia a linha 401 – Independência, da empresa Petro Ita. Ele carrega a dor pelos que não se salvaram, entre eles, um menino.

O vídeo com a declaração dos motoristas foi divulgado no Facebook pelo Setranspetro, que é o sindicato que representa as empresas de ônibus na cidade.

A outra linha carregada pela inundação foi a 465 – Amazonas, também da empresa Petro Ita. Quem conduzia o coletivo era Carlos Antônio de Faria, de 46 anos. Ele compartilhou o sentimento de angústia diante do desespero vivido por ele, cobradores, que também sobreviveram, e passageiros.

“Eu só queria salvar todo mundo. Só isso”, desabafou.

“Eu não sei quem é o pai daquele menino, que eu não consegui pegar, mas ele pode tá certo que a dor que ele tá sentindo, eu tô sentindo, eu também tenho filho! Só quero que Deus conforte muito, muito ele, porque aquela criança era tudo que eu queria ter segurado, e não consegui”, lamenta Carlos.

Os condutores seguiam sentido bairro e contam que o rio ainda não estava transbordando. Mas uma onda surgiu em direção ao coletivos. Eles contam que o problema maior ocorreu devido ao impacto que a queda de uma barreira provocou.

“O rio ainda estava sob controle, sem jogar água na pista. Estávamos seguindo itinerário para o bairro, porém, alguns metros à frente, após a UPA, veio uma onda em direção aos coletivos. Como recomendado, paramos os ônibus na pista, para deixar a água baixar e seguir viagem. Com o impacto da queda, a força da água balançou o ônibus, fazendo com que os veículos começassem a ser arrastados”.

Assim que perceberam o perigo, eles agiram rápido para tentar retirar o máximo de passageiros possível. Eles acionaram a alavanca de emergência dos coletivos para que as pessoas pudessem ser retiradas pelas janelas com a ajuda de cordas.

“Lançaram cordas em nossa direção, que foram amarradas nos ônibus e em portões, colunas e poste da via, sendo possível começar a fazer o resgate dos passageiros, com a ajuda das pessoas do condomínio, a quem somos extremamente gratos”, contaram os motoristas.

O Setranspetro encerra o vídeo agradecendo os motoristas por, mesmo abalados, terem retornado ao trabalho nesta quinta para atender a necessidade de transporte da população.

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