O governo do Rio de Janeiro deu início na manhã desta quarta-feira (19) ao Cidade Integrada, o novo projeto de ocupação social de comunidades e uma espécie de reformulação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), criado em 2008.
A ação, com 1.200 homens, começou pelo Jacarezinho, na Zona Norte da cidade — onde em maio de 2021 uma operação policial terminou com 28 mortos, a mais letal da história do estado. A comunidade é dominada por uma facção do tráfico de drogas.
No meio da manhã, outro efetivo foi para a Muzema, sub-bairro do Itanhangá, na Zona Oeste do Rio, subjugado pela milícia. A região é a mesma onde dois prédios irregulares desabaram matando 24 pessoas em 2019.
Até a última atualização desta reportagem, a força-tarefa tinha prendido dois homens — um deles era um assaltante de banco foragido. Duas motocicletas foram apreendidas. A Polícia Civil tentava cumprir, no total, 42 mandados de prisão e 13 de busca e apreensão de adolescentes.
Não houve relatos de tiroteios. “A situação é de aparente tranquilidade. Já temos o cerco nas imediações. O trânsito nas vias próximas segue fluindo normalmente, e isso é muito importante”, disse o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz. Os trens também circulavam sem interrupções.
A intenção de reformar o projeto adotado pelas UPPs foi anunciada em maio de 2021. “O estado não estava presente, não tinha serviço lá dentro”, afirmou o governador Cláudio Castro (PL) na ocasião.
Nesta quarta, Castro comentou o início do Cidade Integrada nas redes sociais.
“Damos início a um grande processo de transformação das comunidades do Estado do Rio. Foram meses elaborando um programa que mude a vida da população levando dignidade e oportunidade. As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança”, escreveu.
Em novembro, o g1 mostrou que a ocupação estava prevista para seis grandes comunidades:
- Jacarezinho;
- Muzema/Tijuquinha/Morro do Banco, no Itanhangá;
- Cesarão, em Santa Cruz;
- Pavão-Pavaozinho/Cantagalo, em Copacabana e em Ipanema;
- Maré;
- Rio das Pedras.
Todas essas comunidades possuem forte presença do crime organizado, entre traficantes e milicianos. O Jacarezinho, por exemplo, é área do Comando Vermelho.
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Mapa mostra as primeiras comunidades ocupadas no Cidade Integrada — Foto: Infografia: Juan Silva/g1
Nesta quarta, o governo não informou sobre outros alvos do Cidade Integrada. Mais detalhes serão apresentados no próximo sábado (22).
O projeto de ocupação do Jacarezinho ocorre no mesmo dia em que Cláudio Castro vai a Brasília tentar reverter junto ao governo Bolsonaro a rejeição do ingresso do estado do Rio ao novo Plano de Recuperação Fiscal.
O Bom Dia Rio apurou que nesta quinta (20) Castro vai se reunir com o prefeito Eduardo Paes (PSD) para discutir o andamento do programa.
Paes, no entanto, afirmou que não foi avisado sobre as ocupações desta quarta.
“Neste primeiro momento, a ideia é que possamos fazer uma retomada do território”, disse Ivan Blaz. “Era necessário que fizéssemos este trabalho de cerco e agora é fazer vasculhamento, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão e verificação de antigos mandados de prisão”, emendou.
Segundo Blaz, o Comando de Operações Especiais, que inclui o Bope, chegou ainda na noite de terça (19). Batalhões da Zona Norte e a Coordenadoria de Polícia Pacificadora também foram mobilizados.
“Algumas comunidades ao redor também vão ser ocupadas para o sucesso da operação. Manguinhos e Bandeira 2 são comunidades que estão sofrendo algum impacto”, acrescentou o porta-voz.
Castro: ‘Entrada de serviço público’
Na semana passada, ao inaugurar centros de testagem para Covid, o governador disse que o Cidade Integrada não seria “como em outras épocas”.
“Chegou a hora de repensar até essa questão da ocupação do estado mesmo. É um programa que vem discutir segurança pública de maneira mais ampla e não simplesmente fazer o que foi feito nas outras vezes, que era ocupar e tirar todo mundo e daqui a pouco volta”, detalhou.
Documentos obtidos pelo g1 mostram que a reformulação já vinha sendo discutida pelo menos desde setembro. Um ofício previa, por exemplo, a instalação de projetos sociais destinados a mulheres e idosos no Cantagalo.
O programa das UPPs surgiu em 2008, na gestão do governador Sérgio Cabral. Dez anos depois, sofreu uma grande diminuição, quando o Rio estava sob intervenção federal na segurança pública.