O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a afirmar que o governo federal não deve prorrogar o auxílio emergencial. Segundo ele, o Planalto não vai “subir cadáveres para fazer política” para justificar a extensão do benefício.
“A minha posição sempre foi: o auxílio emergencial foi para a pandemia. Não vamos subir cadáveres para fazer política e para fingir que a pandemia está aí, que voltou só para poder pegar a grana do governo. Não vamos fazer isso, porque é um ataque às futuras gerações. É uma irresponsabilidade”, diz em entrevista publicada à revista Veja publicada nesta 6ª feira (18.dez.2020).
De acordo com dados do Ministério da Saúde, divulgados nessa 5ª feira (17.dez.2020), o Brasil registra 7.110.434 casos de coronavírus e 184.827 vítimas da covid-19. Foram confirmados mais 69.826 casos nas últimas 24h antes da divulgação dos dados e 1.092 mortes.
O ministro disse ainda que o Brasil está “quase vencendo” a pandemia. “Precisamos realmente terminar o serviço. E terminar o serviço é fazer a vacinação em massa para impedir a tal da 2ª onda.”
Apesar de defender a adoção de medidas de enfrentamento a uma possível 2ª onda, o ministro se disse contrário a obrigatoriedade da vacinação. Nessa 5ª feira (17.dez), o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu autorizar a vacinação obrigatória no país contra a covid-19.
“As pessoas têm de ter o direito de escolher. Podem tomar a vacina do laboratório A ou a B, ou nenhuma”.
“Agora, se não tomarem nenhuma, também não podem entrar no cinema, porque poriam os outros em risco. Então tem de ter um ‘passaportezinho’ da imunidade”, completou.
SAÍDA DO GOVERNO
Guedes diz que teve um momento em que quase pediu para sair do governo. “Foi quando a Câmara, o Senado, a liderança do governo e todo mundo deixou aberta a possibilidade de destinar o dinheiro para o combate à covid-19 para dar aumentos salariais generalizados”, disse.
“Se ele [o presidente Jair Bolsonaro] não vetasse, não tinha mais o que fazer no governo.”
Segundo o ministro, ele recebeu uma ligação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pedindo que Guedes deixasse o Planalto e salvasse sua biografia.
“Houve, sim, um movimento para desestabilizar o governo. Não é mais ou menos, não. Tinha cronograma. Em 60 dias iriam fazer o impeachment [de Bolsonaro]. Tinha gente da Justiça, tinha o Rodrigo Maia [presidente da Câmara dos Deputados], tinha governadores envolvidos”, diz Guedes.
“O Doria ligou para mim e disse assim: ‘Paulo, é a chance de salvar a sua biografia. Esse governo não vai durar mais de sessenta dias. Faz um favor? Se salva’.”
Guedes conta que ligou para todos os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). “Conseguimos desmontar o conflito ouvindo cada um deles”, relatou.
“O ministro Gilmar Mendes, por exemplo, sugeriu que o governo deveria dar um sinal, caso estivesse realmente interessado em pacificar as relações. A demissão do Weintraub foi uma sinalização. Liguei também para o ministro Barroso e para o ministro Fux.”
FALHAS NA GESTÃO
Para o ministro, sua gestão na Economia falhou em 2 pontos: privatizações e reforma da previdência. “Por coincidência, eu não tenho mais em minha equipe nenhum dos 2 secretários que cuidavam desses projetos desde o início. Isso fala por si só, você não acha? Eles estavam sendo sabotados e saíram do governo, ou foram embora porque não estava funcionando”, disse.
“Só posso dizer que a saída deles não foi uma coincidência.”
Sobre as privatizações, o ministro afirmou que é “evidente que tem problema dentro do governo a respeito disso”.
“Cada ministro tem a sua estatal. Estamos convencendo um a um. No início do governo, vários ministros achavam natural ficar com as suas estatais. Os militares, por exemplo, são a favor das estatais. Eles fizeram uma porção delas”, afirmou.
O ministro disse ainda que quer anunciar 4 privatizações “apoiadas pelo presidente, o mais rápido possível”.
Já sobre a reforma administrativa, Guedes fala que fez sua parte. “Entreguei a proposta ao presidente da República (que a enviou ao Congresso em setembro deste ano)”, disse.
Sem citar nomes, afirma que a reforma foi bloqueada pelo “entorno do presidente”. “Mas o atraso da administrativa foi mais do que compensado pelo congelamento de salário dos servidores públicos. Por isso, o ministro sorri quando dizem que ele está perdido. Nunca perdi o foco.”
REBATE CRÍTICAS AO GOVERNO
O ministro rebateu críticas que são feitas ao governo Bolsonaro. Guedes disse que sente que está “atravessando um rio no lombo de um monte de jacaré”. “Toda hora pulo de um jacaré para o outro. Aí, de repente, vejo os críticos jogando pedra.”
O czar da economia chamou de “ridículas” as críticas que recebe, especialmente de ex-ministros da Economia.
“Esses que estão falando mal podem me dizer o que fizeram quando estavam aqui? Um deles, por exemplo, entregou o país com uma inflação de 5 000%. Isso é que é ridículo. São falsas narrativas políticas, negacionistas, anticientíficas, porque a ciência é baseada em resultados empíricos”, disse.
“Essas críticas são narrativas políticas, são negacionistas, são anticientíficas, porque a ciência é baseada em resultados empíricos. Fazer o teto de uma casa é fácil, mas construir as paredes para segurá-lo é mais difícil. E foi isso que a gente fez.”
APOSTA EM TRUMP “DEU ERRADO”
Bolsonaro sempre demonstrou apoio a Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Com a derrota do republicano na eleição norte-americana, para o democrata Joe Biden, a relação ficou incerta entre os 2 países.
“A questão é que a aposta foi feita no Trump. A aposta era: o presidente Bolsonaro cola no Trump e ocupamos o banco dos Brics, que é onde está a China, e o BID. Fizemos um acordo com os americanos. O americano foi eleito presidente do BID e, com isso, iríamos ganhar o BID Invest. Deu errado”, disse Guedes.
“Ao mesmo tempo, tem essa guerra de narrativa contra o Brasil na selva amazônica. Estamos reconstruindo a nossa influência lá fora. Estou seguro de que estamos fazendo o certo.”
CRESCIMENTO EM 2021
Segundo Guedes, “se tudo der certo, o Brasil pode crescer 4% em 2021 e por 10 anos seguidos”. O “dar certo”, mencionado pelo ministro, significa a aprovação de reformas pelo Congresso.
“Se as reformas estruturantes não forem aprovadas, teremos crescimento baixo, inflação alta e dólar descontrolado. Podemos seguir o caminho da Argentina.”
O ministro afirma que a “volta do crescimento em V é prova de que o Brasil estava decolando quando a pandemia chegou”. “O Brasil será a maior fronteira de investimentos do mundo em 2021”, disse.