Laurent Fabius, o francês que bateu o martelo para selar o Acordo de Paris contra a mudança climática cinco anos atrás, disse que gostaria que as potências mundiais combatessem o aquecimento global com a mesma determinação com que confrontam a pandemia de coronavírus.
O acordo firmado por quase 200 países em 12 de dezembro de 2015 foi saudado como um divisor de águas em potencial nos esforços para conter o aquecimento global, e pediu que se mantenha o aumento da temperatura global média bem abaixo dos 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Embora a tendência de longo prazo nas temperaturas globais esteja declinante no momento, o progresso feito é insuficiente, disse Fabius, culpando a falta de vontade política de muitos governos, e não pouco os Estados Unidos sob o comando do presidente Donald Trump.
Mas em uma entrevista à Reuters, ele ressaltou alguns acontecimentos positivos, como a promessa do presidente eleito norte-americano, Joe Biden, de reintegrar seu país ao acordo.
Governos tomaram decisões financeiras e sociais corajosas para conter o vírus, mas a mudança climática representa uma ameaça ainda mais grave, alertou Fabius.
“Infelizmente, não estamos fazendo tanto para combater a mudança climática quanto para enfrentar as consequências da Covid”, disse Fabius, que foi o negociador-chefe das negociações de Paris e hoje preside o Conselho Constitucional da França.
Ele disse que é essencial que a recuperação global da pandemia seja “verde” e que não se injete dinheiro em indústrias velhas e poluentes.
O acordo trouxe algumas vitórias, segundo ele. Modelos científicos haviam projetado que as temperaturas aumentariam 5 ou 6 graus Celsius e agora estimam aumentos de 3 a 4 graus Celsius até 2100 – o que ainda é muito alto, observou.
Os limiares estabelecidos pelo Acordo de Paris refletem as crenças dos cientistas de que um aumento de temperaturas de mais de 2 graus Celsius condenaria o planeta a um futuro de elevação dos níveis dos mares, inundações catastróficas, secas e tempestades, além de escassez de comida e água.
Fabius, ex-primeiro-ministro que era ministro das Relações Exteriores da França à época do pacto, lembrou das noites insones das duas semanas de negociações intensas – o acordo quase desmoronou na última hora.
Ele disse que houve uma guinada geopolítica nos últimos meses, já que Biden prometeu voltar ao acordo, a China se comprometeu a zerar as emissões de carbono até 2060 e o Japão até 2050.