Com a obrigação do uso das máscaras de proteção em cidades da região metropolitana e em Belo Horizonte a partir desta sexta-feira (17), os comerciantes de tecido têm sentido uma mudança no comportamento da clientela. Se antes as compras eram feitas em pequenos tamanhos, agora já é possível vender vários metros de tricoline 100% algodão, um dos únicos tecidos que estão movimentando a economia do ramo. A alta procura, entretanto, fez com que houvesse a falta do produto em algumas fábricas. Nas que possuem, o valor foi aumentado.
Nessa quinta-feira (16) a reportagem esteve em uma loja em Contagem, na região metropolitana, e flagrou o constante movimento no local. Vitor Ramalho, 21, que tem ajudado a mãe Marília Viana, 49, diz que o faturamento tem até superado o de períodos normais. “As vendas aumentaram muito. E se antes a gente vendia vários tecidos, agora a gente só vende um. Eles (os outros tecidos) ficam lá em estoque, mas ninguém quer. A gente só está vendendo tricoline 100% algodão que é o indicado para a máscara. É o único produto que a gente está vendendo neste período. Só que a gente está vendendo tanto dele, que o faturamento nosso está maior do que o comum”, comemorou.
De acordo com Ramalho, o produto está em falta em algumas fábricas. “Esse é o grande problema nosso, porque na fábrica está faltando muito desse material como está saindo muito. E está faltando diversidade também. Nas (fábricas) que você encontra diversidade, todas estão aumentando o preço devido à demanda. Aí acaba que a gente tem que repassar o aumento para os clientes”, disse.
Segundo Vitor Ramalho, a loja vende pedaços a partir de 30 centímetros, mas “ninguém está comprando essa quantidade mais”. Do tricoline, o tecido em algodão apropriado para a confecção das máscaras, os clientes têm comprado até cinco metros e as costureiras que trabalham com isso, mais do que isso. “Para achar (o tecido) a gente está tendo dificuldade, aí estamos fazendo uma lista de espera de clientes que vai chegando e vai saindo na mesma hora. A gente buscou hoje bastante estampa de tricoline e a gente já vai ter que buscar mais porque acabou tudo. Enquanto isso os outros produtos estão todos lá estocados. Não vende outra coisa a não ser isso”, afirmou.
Outro produto essencial para a confecção das máscaras é o elástico. Vitor Ramalho disse que a loja possuía um grande volume em estoque e, mesmo assim, já acabou. Ele alega que “com muito custo”, achou para comprar, só que mais caro e vai ter que repassar o aumento aos clientes.
De vez em quando, ocorre uma outra venda que não seja para a confecção de máscaras. Enquanto a reportagem esteve no local, a manicure Gislene do Carmo, 44, foi ao local para fazer fantasias para os filhos gêmeos. “O aniversário deles é em maio. Não pode acabar com essa imaginação deles, eles querem fantasia de ninja. Mesmo em casa vamos comemorar o aniversário deles”, declarou.
Já quem tem comprado o material para fazer o equipamento de proteção, tem encontrado dificuldade. Proprietária de uma loja virtual de vestuário feminino, a engenheira química Raphaela Lopes, 27, decidiu confeccionar máscaras durante a pandemia. “A procura cresceu muito, a gente nem fazia máscara, mas com tudo isso, o pessoal começou a pedir, divulgamos e está muita alta procura”, disse.
Raphaela afirmou estar com dificuldades para a comprar os tecidos. Segundo ela, algumas lojas têm funcionado apenas pelo Whatsapp e acaba encontrando certa burocracia para a retirada do produto. Ela alega que o preço do metro do tecido aumentou em torno de R$ 4 em relação ao que era vendido anteriormente. As lojas em que ela tem encontrado os insumos ficam no Barro Preto e no Barreiro de Baixo. “A do Barreiro está mais em conta”, falou.
Sem focar a produção exclusivamente nas máscaras, Raphaela diz que junto com a mãe confeccionam em média de 30 máscaras por dia, todas vendidas rapidamente. “Nossa rotina é bem dividida, não ficamos só por conta disso. Comparando com outros produtores, a nossa quantidade é baixa, mas tem saído todas. Estamos tendo dificuldades para produzir mais, se conseguíssemos fazer mais, a gente conseguiria vender”, contou Raphaela que tem vendido os equipamentos a uma média de R$ 5 cada.