Uma única facção domina todas as comunidades de Niterói

As constantes operações policiais, fruto da política de enfrentamento da atual Secretaria de Estado de Polícia Militar, desencadeadas desde o início do ano, provocou uma situação atípica em Niterói, não vista há pelo menos duas décadas. Como forma de se fortalecerem, traficantes que antes integravam facções rivais escolheram um único lado, e a venda de drogas em todas as comunidades da cidade passou a ser controlada por uma única quadrilha. Segundo o comando do 12º BPM (Niterói), atualmente a cidade não tem “guerras entre grupos de criminosos rivais”.

A mudança se consolidou há cerca de um mês, quando traficantes da maior quadrilha em atividade no estado, que controla o tráfico no Complexo do Caramujo, retomaram o controle das comunidades do Palácio, no Ingá; e Pimba, Coronel Leôncio, Palmeira e Santo Cristo, no Fonseca, que eram dominadas por rivais.

Na comunidade do Sabão, no Centro, a troca ocorreu em agosto, restando apenas o Complexo do Estado, entre Centro e Icaraí, onde ainda há resistência de parte de traficantes locais a mudarem de lado, segundo fontes ligadas à Segurança Pública. Essa relutância, entretanto, não é forte o bastante para impedir o controle do tráfico pela facção rival.

A mesma facção que perdeu terreno em Niterói, chefiada na região pelo traficante Thomas Jayson Gomes Vieira, o 3N, também enfrenta baixas em São Gonçalo. No município vizinho, a quadrilha perdeu recentemente o controle da venda de drogas nas comunidades da Rua da Feira e da Coreia, no Barro Vermelho. Mas ainda controla o tráfico no Morro da Central, no Raul Veiga, Caixa D’Água, no Vila Três, Complexo da Alma e 590, na Amendoeira, além de pontos nos bairros de Vila Candoza, Jardim Miriambi e Lagoinha.

AÇÕES COORDENADAS

Uma fonte da Polícia Civil diz que o principal objetivo de 3N é recuperar o controle do Complexo do Salgueiro e tomar o Jardim Catarina da facção rival, que passou a dominar todas as comunidades de Niterói. Para isso, o traficante estaria considerando a retomada das favelas do Santo Cristo e Coronel Leôncio, no Fonseca, como fundamental para sua estratégia.

— Essa mudança em Niterói ocorreu, na maioria dos casos, sem confronto entre quadrilhas rivais. Esses criminosos estão acuados e, para tentar se fortalecer e manter de alguma maneira seus negócios, estão mudando para o lado que eles consideram o mais forte, como uma maneira de resistir. Mas não podemos esquecer que estamos falando de bandidos, pessoas sem qualquer tipo de escrúpulo, que tomam decisões sem critérios, o que pode fazer as coisas mudarem a qualquer momento, dependendo da dinâmica dos fatos — diz um agente da área de segurança pública.

Para o antropólogo e ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Paulo Storani, apesar de o domínio de uma única facção contribuir para a redução de conflitos, a situação é preocupante:

— O que pode acontecer em Niterói é um modelo semelhante ao que vemos em São Paulo, onde uma única quadrilha realiza crimes contra o patrimônio, tráfico de drogas, roubo de cargas, de automóveis e a transeuntes. Não há disputa de território, o que é diferente do Rio, mas se tem um monopólio do crime. Passa-se a ter um poderio maior, com ações coordenadas que trazem mais insegurança à população.

De acordo com a Secretaria de Estado de Polícia Militar, o 12º BPM (Niterói) realiza intenso combate ao tráfico de drogas nas comunidades de Niterói, independentemente da quadrilha que atua em cada localidade, visando sempre a diminuir os índices de criminalidade, “com as análises das manchas criminais das regiões”. A Polícia Civil diz que investigações relacionadas a movimentação das quadrilhas são sigilosas.

Somente entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados 89 autos de resistência na cidade, atingindo o recorde da série histórica iniciada em 2003. Por outro lado, o total de roubos caiu 26% no comparativo com o mesmo período do ano passado: de 6.064 para 4.497 casos.

VIA: O Globo

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