A revelação de um contrato milionário firmado entre o escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o Banco Master, investigado por fraudes contra o sistema financeiro, adicionou novos e graves elementos a um episódio que já vinha gerando forte desconforto nos bastidores de Brasília. O acordo previa o pagamento de R$ 129 milhões ao longo de três anos, valor considerado fora do padrão do mercado jurídico e que passou a ser alvo de questionamentos políticos e institucionais.
Após a divulgação do contrato, veio à tona mais um ponto sensível: Alexandre de Moraes teria procurado o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, com o alegado objetivo de interceder em favor do Banco Master, instituição que acabou sendo fechada após a deflagração de uma operação da Polícia Federal que apura irregularidades bilionárias. A informação foi divulgada inicialmente pela jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, e confirmada pela Gazeta do Povo.
Segundo apuração, Moraes teria defendido a aprovação da compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), negócio anunciado em março, mas que não recebeu aval do Banco Central. A suposta intervenção do ministro, ainda que negada por fontes próximas, passou a ser comentada abertamente entre ministros de tribunais superiores e integrantes do meio jurídico em Brasília, alimentando a percepção de conflito de interesses envolvendo um dos magistrados mais poderosos do país.
O caso ganha contornos ainda mais delicados diante do fato de que o Banco Master foi alvo da Operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal em novembro. A investigação aponta crimes como gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa, envolvendo a emissão de títulos de crédito falsos e manobras para burlar a fiscalização do Banco Central. No mesmo dia da operação, o BC decretou a liquidação extrajudicial do banco, reconhecendo que a instituição havia perdido condições de funcionamento.
Documentos encontrados pela Polícia Federal no celular do banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, confirmam a existência do contrato com o escritório de Viviane Barci de Moraes. Embora haja a informação de que a advogada não tenha atuado diretamente no processo que levou à prisão do banqueiro, o vínculo financeiro com uma instituição posteriormente liquidada por suspeita de fraudes levanta questionamentos éticos inevitáveis — sobretudo quando associado à atuação informal do marido junto ao Banco Central.
Para críticos do STF, o episódio reforça a percepção de que Alexandre de Moraes atua sem os freios institucionais que se espera de um ministro da Suprema Corte. Nos bastidores do Congresso, parlamentares avaliam que o caso expõe uma relação promíscua entre poder político, sistema financeiro e Judiciário, agravada pela falta de transparência e pela concentração de poder nas mãos do ministro.
A oposição já sinaliza que pretende explorar o caso no retorno do recesso parlamentar, com a possibilidade de novos pedidos de impeachment e propostas de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O discurso é de que o STF, que deveria ser o guardião da Constituição, passa a conviver com episódios que corroem sua credibilidade e colocam em xeque a imparcialidade de seus membros.
Enquanto isso, Alexandre de Moraes segue no centro de decisões sensíveis da República, agora sob a sombra de um escândalo que mistura contratos milionários, banco liquidado, suspeitas de pressão sobre o Banco Central e um silêncio institucional que, para muitos, apenas amplia a gravidade do caso.


