O Valor do Recomeço

Olá leitores do Fala Rio!

Recomeçar é um dos atos mais nobres e corajosos da vida. Muitas pessoas acreditam que o fracasso é o fim de tudo, mas, na lógica de Deus, o fracasso é apenas o início de algo novo. O próprio Evangelho é uma sucessão de recomeços: homens e mulheres que, tocados pela graça, se levantam da ruína e descobrem um novo sentido de viver.

A cruz, símbolo do maior aparente fracasso da história, tornou-se sinal de vitória e redenção. E é sob essa perspectiva que cada um de nós é chamado a compreender os próprios tropeços. Nada está perdido quando se confia em Deus. Como dizia Santo Agostinho: “O passado pertence à misericórdia, o futuro à providência e o presente ao amor.” Essa é a arte do recomeço: olhar para o ontem com gratidão, viver o hoje com fé e entregar o amanhã à vontade divina.

O profeta Ezequiel nos oferece uma das imagens mais belas de recomeço nas Escrituras. No capítulo 37, ele é conduzido por Deus a um vale cheio de ossos ressequidos, símbolo de um povo que havia perdido a esperança. E o Senhor lhe pergunta: “Filho do homem, poderão reviver estes ossos?” (Ez 37,3). A resposta de Ezequiel é humilde e confiante: “Senhor Deus, Tu o sabes.” Então, o profeta profetiza conforme o mandado divino, e os ossos se revestem de carne, recebem o sopro da vida e tornam-se um exército numeroso.

Essa visão poderosa revela que, mesmo quando tudo parece sem vida, Deus é capaz de restaurar, de soprar novamente Seu Espírito e de devolver sentido ao que parecia perdido. O vale de ossos secos é, em verdade, o símbolo das nossas ruínas interiores — lugares da alma onde pensamos que nada mais florescerá. Mas o Senhor insiste: “Eis que vou abrir os vossos túmulos e fazer-vos sair deles, ó meu povo” (Ez 37,12). Assim é Deus: especialista em ressuscitar o que julgávamos morto.

E se olharmos para o Novo Testamento, veremos essa verdade encarnada na figura de Maria Madalena. Dela, o Evangelho diz que Jesus expulsou sete demônios (Lc 8,2). Era uma mulher marcada por dores e por um passado sombrio, mas o encontro com Cristo mudou tudo. De uma vida de desespero, nasceu uma história de fidelidade. Foi ela quem permaneceu de pé junto à cruz, quando muitos haviam fugido. Foi ela também a primeira a ver o Ressuscitado, a quem Jesus confiou a missão de anunciar aos apóstolos a notícia da Ressurreição — por isso a Tradição da Igreja a chama de “apóstola dos apóstolos.”

Madalena representa o recomeço da alma que é perdoada e reencontra a própria dignidade. Ela não voltou a ser quem era; tornou-se algo novo. O amor de Cristo não a remendou, mas a recriou. O recomeço em Deus não é voltar ao ponto de partida, é começar de um novo modo, sob uma nova luz, com um novo coração.

Outro exemplo de recomeço está em Levi, o cobrador de impostos, que se tornaria Mateus, o apóstolo e evangelista. Sentado à mesa de arrecadação, desprezado pelos judeus por trabalhar para o império romano, ele ouve um simples chamado: “Segue-me.” (Mt 9,9). E ele se levanta imediatamente, deixando tudo para trás. Aquele gesto — levantar-se — é o símbolo de todos os recomeços da fé.

Levi deixa de ser o homem preso à contabilidade do mundo para tornar-se testemunha do Evangelho da misericórdia. Seu passado não foi apagado, mas transfigurado pela graça. E a vida de Mateus continua a ecoar nas páginas que ele próprio escreveu, onde Jesus declara: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores.” (Mt 9,13).

Essas três histórias — Ezequiel diante do vale dos ossos secos, Maria Madalena diante do túmulo vazio e Levi diante do chamado de Jesus — nos ensinam que o recomeço é um dom divino que se manifesta em quem se deixa tocar pela graça. Nenhum fim é definitivo para quem confia em Deus.

Recomeçar exige humildade para reconhecer erros, fé para dar o primeiro passo e coragem para acreditar que o amor de Deus é sempre maior do que as quedas humanas. O recomeço é o próprio coração do Evangelho. Todo aquele que se abre à misericórdia renasce, e cada renascimento é um testemunho vivo de que o Espírito ainda sopra sobre os vales secos da existência humana.

A pessoa que ama recomeça não porque ignora as feridas, mas porque acredita no Médico que cura todas elas. E no fim, descobre que o recomeço não é o ponto final, mas o lugar onde a história começa de verdade — sob a luz da esperança que não se apaga.

A benção de Deus todo poderoso.
Pai, Filho e Espírito Santo!

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