O ex-ministro da Previdência,no governo Lula, Carlos Lupi, prestou depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) nesta segunda-feira (9) e negou qualquer participação em irregularidades durante sua gestão. Ele afirmou que não foi omisso diante das fraudes no INSS.
Lupi disse não conhecer figuras centrais do esquema, como o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o Careca do INSS. Admitiu ter feito nomeações na pasta, incluindo Adroaldo da Cunha Portal, ex-secretário do Regime Geral de Previdência, mas declarou que a responsabilidade pelos desvios cabia ao próprio INSS, autarquia com autonomia administrativa.
“Errar é humano; eu posso ter errado várias vezes. Má-fé eu nunca tive. Acobertar desvios, nunca fiz na minha vida”, afirmou.
Defesa e alegações
O ex-ministro comandou a Previdência entre janeiro de 2023 e maio de 2025, deixando o cargo dias após a deflagração da operação da Polícia Federal que investiga fraudes bilionárias com descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Segundo Lupi, ele só tomou conhecimento da real dimensão do esquema após o avanço das investigações.
Ele negou ter informado Lula sobre os indícios de fraude e disse que as medidas começaram a ser adotadas em 2023, em parceria com a Polícia Federal, após alertas recebidos pela Ouvidoria.
“Essa ação foi de fora para dentro. Não era uma ação feita com dinheiro público dentro da Previdência Social. Era um esquema criminoso externo, com a conivência de alguns que, espero eu, sejam exemplarmente punidos”, declarou.
Omissão e auditorias
Questionado sobre alertas feitos em reuniões do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) em 2023, Lupi negou omissão e disse que auditorias do ministério não encontraram irregularidades em algumas entidades, como o Sindinapi.
Segundo ele, sua saída da pasta não teve relação com questões éticas ou legais, mas foi resultado de pressões políticas:
“Ficou insustentável pela campanha política que se fez contra mim.”
Nomeações
Sobre as indicações de Adroaldo da Cunha Portal e Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS afastado em 2023, Lupi afirmou que a primeira foi política, enquanto a segunda teve caráter técnico. Ele disse ainda que nunca teve contato com o “Careca do INSS” e que o irmão do presidente Lula, Frei Chico, jamais fez pedidos relacionados ao ministério.
Convocação de Frei Chico
O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, pretende apresentar um requerimento de convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula, no âmbito da CPMI do INSS. A comissão deve ser instalada nesta quarta-feira (20), quando será divulgado o cronograma de reuniões.
A Polícia Federal apontou que o Sindinapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical), do qual Frei Chico é vice-presidente, aumentou seu faturamento de R$ 17 milhões em 2019 para R$ 90 milhões em 2023, totalizando R$ 259 milhões no período. O sindicato está entre os alvos da PF e da CGU (Controladoria-Geral da União), mas Frei Chico não é investigado. Atualmente, ele também não é filiado a nenhum partido político.
Investigações
A CPMI apura um esquema que teria começado em 2019 e movimentado cerca de R$ 6,4 bilhões em seis anos, envolvendo associações de aposentados que aplicavam descontos irregulares em benefícios previdenciários.


