Polícia procura operador da Al-Qaeda que lavou dinheiro para o Comando Vermelho

A Polícia Civil do Rio de Janeiro revelou nesta terça-feira (3) que um homem que já foi procurado pelo FBI por suposta ligação com o grupo terrorista Al-Qaeda atuava como operador financeiro do Comando Vermelho (CV), uma das maiores facções criminosas do país. O egípcio Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, que já esteve na lista de foragidos da agência americana, é investigado em um inquérito que apura um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro envolvendo a facção.

Apesar de não ser alvo direto da operação deflagrada nesta terça, Mohamed aparece como figura-chave em movimentações financeiras informais ligadas ao CV. De acordo com o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, as investigações indicam que o egípcio possui “relevante histórico no sistema financeiro informal vinculado ao Comando Vermelho” e que uma das empresas investigadas no esquema possui ligação direta com ele.

“Ficou comprovado que o esquema de lavagem de dinheiro da facção envolve empresas de eventos, cantores que fazem bailes em comunidades e até a esposa de um desses MCs. Chamou atenção a relação direta entre uma dessas empresas e Mohamed, o que demonstra o vínculo estreito entre facção, influenciadores e promotores de eventos que ajudam a disseminar a narcocultura”, afirmou Curi.

Quem é Mohamed Ibrahim?

Mohamed foi incluído na lista de procurados do FBI sob suspeita de atuar como facilitador financeiro da Al-Qaeda, organização responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Em 2019, seu nome foi retirado da lista após ser interrogado por agentes americanos em São Paulo. À época, ele negou envolvimento com terrorismo e disse à revista Época que sua inclusão na lista foi motivada por perseguição política no Egito, onde era membro de um partido posteriormente criminalizado.

A operação: alvo foi Vivi Noronha, mulher do MC Poze do Rodo

A operação desta terça teve como um dos principais alvos a influenciadora Vivi Noronha, mulher do funkeiro MC Poze do Rodo. A polícia suspeita que Vivi teria recebido quase R$ 1 milhão de pessoas investigadas como laranjas de Fhillip da Silva Gregório, o Professor, apontado como operador do esquema de lavagem de dinheiro do CV.

Segundo o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), duas transferências foram identificadas: uma de R$ 858 mil para a empresa de Vivi e outra de R$ 40 mil para sua conta pessoal. Para a polícia, ela e sua empresa figuram como beneficiárias diretas de recursos ilícitos da facção, com o objetivo de mascarar a origem criminosa dos valores.

“A posição dela na estrutura criminosa é simbólica, pois representa o elo entre o tráfico e o universo do consumo digital, conferindo aparente legitimidade ao dinheiro e ampliando o alcance da narcocultura nas redes sociais”, apontou o relatório policial.

O papel de Professor

O esquema seria comandado por Professor, morto no último domingo (1º) em circunstâncias ainda investigadas. A principal hipótese é que ele tenha tirado a própria vida após uma briga com a amante.

De acordo com a polícia, Professor estruturou uma rede com empresas de fachada e laranjas para escoar o dinheiro do tráfico. Parte dessas quantias era enviada a intermediários em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai, para a compra de armas e drogas. Mesmo com sua morte, os investigadores afirmam que o inquérito seguirá normalmente, destacando a importância do traficante na engrenagem financeira da facção.

Um esquema de R$ 250 milhões

Estima-se que o esquema tenha movimentado R$ 250 milhões, conforme apontam as investigações conduzidas pelas delegacias de Roubos e Furtos (DRF), Repressão a Entorpecentes (DRE) e o Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD). Mandados de busca foram cumpridos no Rio de Janeiro e em São Paulo, além de bloqueios judiciais em 35 contas bancárias.

A defesa de Vivi Noronha ainda não se pronunciou sobre as acusações. Já MC Poze, que foi preso na última quinta-feira (29) por apologia ao crime e ligação com o tráfico, teve sua liberdade decretada pela Justiça nesta segunda (2), mas até o momento da última atualização desta reportagem, continuava preso.

Um alerta sobre os novos rostos do crime organizado

O caso evidencia a crescente interseção entre o crime organizado, a indústria do entretenimento e figuras públicas nas redes sociais. Segundo especialistas, essa conexão amplia a capacidade de infiltração da facção na sociedade e dificulta o rastreamento do dinheiro sujo, que circula sob aparência de legalidade.

Com novos rostos, estratégias e aliados improváveis, o Comando Vermelho reafirma sua presença não só nas favelas, mas também nas altas esferas do consumo e do marketing digital. E agora, até mesmo com conexões que cruzam fronteiras internacionais — e, ao que tudo indica, chegam até o passado da Al-Qaeda.

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