Empresas ligadas a cooperativas de proteção veicular são acusadas de pagar criminosos para recuperar carros furtados e evitar indenizações
Na manhã desta sexta-feira (23), a Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou a segunda fase da Operação Torniquete, mirando uma organização criminosa responsável por um esquema de pagamento de “resgates” de veículos roubados. A ação, conduzida por agentes da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), tem como foco empresários e funcionários de empresas conhecidas como “pronta resposta” ou “pronto emprego”, acusadas de negociar diretamente com criminosos a devolução de automóveis furtados, em troca de dinheiro.
As investigações revelam um modelo criminoso estruturado que, em apenas 11 meses, movimentou mais de R$ 11 milhões e contribuiu significativamente para o aumento dos índices de roubo de veículos no estado, especialmente na capital e na Baixada Fluminense. Segundo a Polícia Civil, mais de 1.600 veículos foram “recuperados” por quatro dessas empresas, contratadas por associações e cooperativas de proteção veicular, que recorreram ao crime para evitar pagar indenizações com base na tabela Fipe.
O funcionamento do esquema
Quando um veículo protegido por essas associações era roubado, representantes das empresas de pronta resposta entravam em contato direto com criminosos — muitas vezes dentro de comunidades dominadas por facções — para negociar a devolução. A prática, segundo os investigadores, se tornou uma “solução lucrativa” tanto para os bandidos quanto para as empresas envolvidas.
Em média, os pagamentos pelos resgates ultrapassavam R$ 6 mil por veículo, valor dividido entre os criminosos e os prestadores do “serviço”. Um dos elementos que mais chamou atenção dos investigadores foi o curto intervalo de tempo entre o roubo e a recuperação dos veículos, que em alguns casos levava apenas quatro dias — o que reforça a suspeita de conluio direto com as redes criminosas.
Operação Torniquete: repressão ao crime organizado
A ação desta sexta-feira faz parte da segunda fase da Operação Torniquete, que visa desarticular esquemas de roubo, furto e receptação de veículos e cargas — crimes que alimentam financeiramente as facções criminosas, sustentam disputas por territórios e ainda financiam familiares de membros das quadrilhas, estejam presos ou em liberdade.
Desde o início da operação, em setembro de 2024, a Polícia Civil já efetuou mais de 520 prisões e recuperou cargas e veículos avaliados em aproximadamente R$ 37 milhões. Além disso, foram bloqueados mais de R$ 70 milhões em bens e valores ligados às organizações criminosas.
Próximos passos
Os mandados cumpridos hoje têm como objetivo apreender celulares, computadores e documentos que possam comprovar a atuação criminosa das empresas e identificar os responsáveis pelas negociações com traficantes, roubadores e receptadores.
As investigações continuam com o objetivo de mapear completamente a cadeia de envolvimento no esquema e responsabilizar todos os envolvidos, tanto no setor privado quanto no crime organizado. Segundo a Polícia Civil, o desmantelamento dessas estruturas é fundamental para reduzir os índices de roubo de veículos e enfraquecer financeiramente as facções criminosas que atuam no estado.