PF deflagra 2ª fase da Operação “Teatro Invisível” em esquema de desinformação eleitoral, Dr. Serginho é um dos alvos

Esquema usava atores pagos para encenar fake news em espaços públicos; prejuízo aos cofres públicos pode chegar a R$ 3,5 bilhões

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (16) a segunda fase da Operação Teatro Invisível, que investiga um sofisticado esquema de desinformação com atuação em períodos eleitorais no estado do Rio de Janeiro. O grupo criminoso é acusado de contratar atores para encenar diálogos manipulados em locais de grande circulação, com o objetivo de influenciar o eleitorado. Os pagamentos eram feitos com recursos públicos desviados por meio de contratos de serviços inexistentes firmados por prefeituras.

As ações desta fase visam aprofundar as investigações sobre o financiamento das encenações e a estrutura de lavagem de dinheiro por trás da operação. Foram expedidos 10 mandados de busca e apreensão, com atuação dos agentes federais na capital fluminense, Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e também em Juiz de Fora (MG). Até o momento, não houve mandados de prisão.

Alvos da operação

Entre os investigados estão o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL), e os candidatos derrotados nas eleições municipais de 2024: o deputado estadual Valdecy da Saúde (PL), que disputou em São João de Meriti; Aarão (PP), ex-candidato em Mangaratiba; e Rubão (Podemos), que venceu as eleições em Itaguaí, mas teve a posse impedida pela Justiça.

Além disso, a Justiça Federal determinou o bloqueio de R$ 3,5 bilhões nas contas dos investigados e a suspensão das atividades econômicas de oito empresas envolvidas no esquema.

Como funcionava o “teatro”?

Segundo a PF, os atores contratados recebiam cachês para interpretar cenas cuidadosamente roteirizadas, como discussões entre eleitores, denúncias falsas e situações de violência. Essas encenações eram gravadas com celulares ou câmeras ocultas e, posteriormente, disseminadas nas redes sociais, reforçadas por legendas e montagens que aumentavam seu poder de viralização.

Os recursos para esse “teatro político” vinham de contratos genéricos com as prefeituras — firmados pelas empresas ligadas aos próprios investigados —, sem qualquer prestação de serviço real. A polícia aponta indícios de fraude em licitações, caixa 2, obstrução de justiça e lavagem de dinheiro.

As investigações também revelaram que provas importantes foram destruídas, principalmente arquivos digitais. A prática da organização incluía o uso de contas de passagem, dinheiro em espécie e compra de bens de alto valor para esconder a origem ilícita dos recursos.

Esquema inovador e perigoso

A primeira fase da operação, deflagrada em setembro do ano passado, já havia exposto um modelo inédito de desinformação no Brasil, que mesclava encenações presenciais e disseminação digital. Quatro pessoas foram presas à época.

De acordo com especialistas em direito eleitoral, o caso marca uma nova fronteira das fake news no país, pois mistura o físico e o digital de forma teatralizada, o que dificulta a identificação e punição dos responsáveis. A intenção era clara: manipular a percepção pública e prejudicar candidaturas adversárias com conteúdos falsos, mas aparentemente espontâneos.

Se condenados por todos os crimes investigados, os envolvidos podem enfrentar penas que somam mais de 27 anos de prisão.

A Operação Teatro Invisível segue em andamento e, segundo a PF, novas fases podem ser deflagradas nos próximos meses conforme o avanço das apurações.

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