Estamos em mais um Carnaval, e, como sempre, essa festa gera debates sobre sua origem e significado. Muitos associam o Carnaval a uma celebração de excessos, mas poucos sabem que suas raízes estão profundamente ligadas à tradição cristã.
O nome “Carnaval” vem do latim “carne levare”, que significa “retirar a carne”. A festividade surgiu entre os católicos religiosos como um dia de preparação para a Quaresma, período de 40 dias de jejum e penitência que antecede a Páscoa. Na Terça-feira anterior à Quarta-feira de Cinzas, os fiéis tinham o costume de consumir grandes quantidades de carne e outros alimentos que seriam evitados durante a Quaresma. Assim, a “Festa da Carne” era, na verdade, um momento de convivência e celebração antes do recolhimento espiritual.
Com o passar dos séculos, a festividade foi se transformando, absorvendo elementos culturais diversos e adquirindo novos significados. Infelizmente, em muitos contextos modernos, a essência original foi distorcida, e o Carnaval passou a ser associado à exploração dos corpos e à libertinagem, o que está longe de sua verdadeira origem.
O verdadeiro espírito do Carnaval não é a exaltação dos prazeres desenfreados, mas a alegria legítima da convivência, da cultura e da tradição. Quando olhamos para sua raiz histórica, vemos que a “Festa da Carne” não tinha nada a ver com a banalização da dignidade humana, mas com a vivência de uma tradição que precedia um tempo de recolhimento e renovação espiritual.
Dom Hélder Câmara, grande pastor e defensor da justiça social, compreendia essa dimensão cultural do Carnaval e reconhecia sua importância para o povo. Ele dizia: *”O povo tem o direito de, ao menos uma vez por ano, esquecer suas dificuldades e desafios para se alegrar e conviver.”* Além disso, afirmava com simplicidade e profundidade: *”O Carnaval é a alegria popular.”* Essa alegria, quando bem vivida, não se opõe à fé, mas pode ser uma expressão da esperança e da comunhão.
Muitos escolhem caminhos diferentes nesses dias de Carnaval. Alguns vivem essa alegria em retiros espirituais, com momentos de oração, louvor e pregação. Outros participam da alegria cultural, desfilando pelas ruas e celebrando com suas comunidades. Há também aqueles que aproveitam esse tempo para viajar ou simplesmente descansar. Independentemente da escolha, o essencial é que a alegria vivida respeite a dignidade humana e esteja em harmonia com os valores cristãos.
Que possamos resgatar esse sentido e viver o verdadeiro significado da alegria: aquela que nos prepara para algo maior e mais profundo. Afinal, toda festa genuína deve conduzir o coração a Deus, e não ao esquecimento Dele.