O som ritmado do trem preenche o ambiente enquanto atravessa uma paisagem que parece ser de um cartão-postal na Indonésia. Campos de arroz exuberantes dão lugar a florestas densas, com rios brilhando sob o sol da manhã.
O cenário tropical e verdejante é ocasionalmente interrompido por flashes de vida urbana: cidades e vilarejos onde o dia já está em pleno movimento. Vendedores de rua servem café da manhã aos apressados, mulheres carregam produtos frescos do mercado, e crianças, em seus uniformes vermelhos e brancos, se reúnem para ir à escola.
Essa é a vista do Argo Wilis Panoramic, um vagão iluminado e arejado do trem Argo Wilis. Ligando Surabaya, no leste de Java, a Bandung, no oeste, este é um dos passeios ferroviários mais belos e subestimados do Sudeste Asiático.
Para contextualizar, a Indonésia é o maior arquipélago do mundo, com mais de 17 mil ilhas. Embora barcos e aviões sejam os meios mais comuns de se deslocar entre as ilhas, em Java, os trens são, sem dúvida, a melhor opção.
A ilha de Java se estende por 1.064 quilômetros de leste a oeste e abriga mais da metade da população da Indonésia — cerca de 275 milhões de pessoas. Não é de se estranhar que sua rede ferroviária seja tão extensa e amplamente utilizada.
A companhia ferroviária nacional, Kereta Api Indonesia (KAI), concentra a maioria de suas linhas em Java, conectando todas as principais cidades, como Jacarta, Bandung, Yogyakarta, Solo e Surabaya. Algumas redes limitadas também operam nas ilhas de Sumatra e Sulawesi.
Grande parte dessa infraestrutura foi construída durante o período colonial holandês, que se estendeu por cerca de 350 anos.
Cada trem na Indonésia tem um nome próprio e um significado especial. “O Argo Wilis, por exemplo, leva o nome de um vulcão inativo no leste de Java”, explica um funcionário ferroviário. “Outros trens também recebem nomes de vulcões, lugares históricos e lendas javanesas”.
O diferencial dos trens indonésios é que, em vez de ter vagões de diferentes classes, cada trem opera inteiramente em uma única categoria: econômica, executiva ou intermediária. Independentemente da classe, os trens são impecavelmente limpos, confortáveis, com assentos reclináveis, descanso para os pés e ar-condicionado — essencial no calor tropical do país. Além disso, são extremamente pontuais e acessíveis.
A viagem no Argo Wilis Panoramic entre Surabaya e Bandung dura menos de 10 horas e custa Rp 1.200.000 (cerca de R$ 443) por pessoa, em um único trecho, no vagão panorâmico. Nos demais vagões executivos, o preço é de Rp 680.000 (cerca de R$ 247).
Além do Argo Wilis Panoramic, existem outros trens panorâmicos, como o Argo Parahyangan Panoramic e o Pangandaran Panoramic, que fazem o trajeto entre Jacarta e Bandung.
O vagão panorâmico custa um pouco mais que os outros, mas o bilhete inclui várias vantagens. Antes mesmo de embarcar, os passageiros podem começar a viagem com estilo nos lounges executivos das estações, que oferecem comida e bebida de cortesia.
No trem, são servidos bebidas quentes, uma caixa de snacks e uma refeição principal. Além disso, há Wi-Fi gratuito — embora, com paisagens tão deslumbrantes, você provavelmente não vai querer passar muito tempo no celular.
Comprar passagens é simples. Assim como na maioria da Indonésia, o sistema ferroviário adotou rapidamente a tecnologia, especialmente por meio de aplicativos móveis. As melhores opções para reservar são o Traveloka ou o Tiket.com, duas das maiores plataformas de viagens do país.
Também é possível comprar no site oficial da KAI, mas ele está disponível apenas em indonésio e aceita apenas cartões de crédito locais. Não é necessário imprimir as passagens — basta escanear o código diretamente do celular na estação.
Destaques do trajeto
Para quem viaja no Argo Wilis Panoramic e deseja dividir a jornada, há várias cidades pelo caminho que valem alguns dias de exploração. Se quiser fazer paradas, será necessário reservar os bilhetes para cada trecho separadamente.
Entre os destaques está Yogyakarta, uma das cidades mais fascinantes da Indonésia e a única ainda governada por uma monarquia. É o coração cultural do país, com indústrias criativas como joalheria, teatro de sombras, danças tradicionais e os tecidos de batique — uma arte ancestral que remonta a mais de 2 mil anos atrás e acredita-se ter origem em Java.
Há muito o que fazer: caminhar pelo Kraton (palácio real), explorar a famosa rua Malioboro para comprar artesanato local e visitar os Patrimônios Mundiais da Unesco: Borobudur e Prambanan.
Borobudur, o maior templo budista do mundo, foi construído no século 8 e está cercado por florestas e montanhas — um dos destinos mais impressionantes da Ásia.
Já Prambanan, o maior templo hindu do país, é igualmente imperdível, com templos menores e tranquilos nos arredores que são verdadeiras joias escondidas.
Conheça outras cidades
A cerca de uma hora e meia de trem de Yogyakarta, Solo é outra cidade repleta de história. Centro de poder na Java Central, ela abriga palácios, templos e mercados que refletem sua rica herança cultural. O Keraton Surakarta Hadiningrat (antigo palácio real) e seu museu com artefatos históricos são pontos obrigatórios.
Solo também é conhecida por sua produção de batique. O vilarejo de batique de Laweyan oferece oficinas para visitantes, enquanto o Pasar Klewer é ideal para comprar produtos têxteis. Para os amantes de antiguidades, o Pasar Triwindu é um paraíso.
Nos arredores de Solo, o cenário rural impressiona. A uma hora de carro, encontram-se os templos do século 15 Sukuh e Cetho, nas encostas do Monte Lawu, além de Cachoeira Jumog — perfeita para um mergulho após explorar o calor úmido da região.
A última parada: Bandung
Se você estiver indo para o oeste, a cidade de Bandung é a última parada do Argo Wilis Panoramic e merece ser explorada. Localizada a 768 metros acima do nível do mar, tem um clima agradável e fresco, um alívio em comparação com outras partes da ilha.
Rodeada por florestas e plantações de chá, a natureza está sempre por perto — e a apenas uma hora do centro, você pode visitar o vulcão Tangkuban Parahu.
Conhecida como a “Paris de Java,” Bandung tem um charme europeu, com muitos edifícios coloniais holandeses e art déco transformados em cafeterias modernas e butiques descoladas. A cidade também é um paraíso gastronômico, oferecendo de tudo, desde barracas de comida de rua até restaurantes sofisticados.
Seja fazendo paradas ao longo do caminho ou completando o trajeto direto, o Argo Wilis Panoramic é a melhor forma de apreciar a variedade e beleza das paisagens de Java.
“Os trens são provavelmente uma das melhores coisas de Java,” diz uma passageira britânica na faixa dos 60 anos, que está cruzando a ilha com o marido, à CNN Travel.
“É um pecado pegar um voo e perder tudo isso,” comenta ela, acenando em direção à janela enquanto o trem contorna mais uma curva, revelando terraços de arroz cercados por palmeiras ao vento.
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