O Deserto do Saara, atualmente o maior deserto quente do mundo, nem sempre foi um vasto mar de areia e calor escaldante. Novas descobertas sugerem que, há cerca de 4.000 anos, essa região era uma savana verdejante e cheia de vida. Essa revelação vem de uma série de pinturas rupestres encontradas no leste do Sudão, que oferecem pistas sobre a transição do Saara de uma paisagem verde para o deserto árido que conhecemos hoje.
Pinturas Rupestres: A Chave para o Passado
As pinturas, descobertas entre 2018 e 2019 em Wadi Halfa, retratam cenas de vida pastoral, incluindo a presença de gado. Este achado é significativo porque o gado retratado nas pinturas não poderia sobreviver nas condições atuais do Saara, que é extremamente seco e árido. Julien Cooper, um dos pesquisadores envolvidos na descoberta, destacou a importância dessas imagens, afirmando que o gado necessita de água abundante e pastagens verdes, o que indica que o clima da região era muito diferente há milhares de anos.
O Período Úmido do Saara
Acredita-se que o último período úmido do Saara começou há aproximadamente 15.000 anos e terminou por volta de 5.000 anos atrás. Durante esse tempo, a região desfrutava de um clima que suportava vastas áreas de savana, com rios, lagos e pântanos. As pinturas rupestres não apenas ilustram a presença de gado, mas também de outras espécies típicas de uma savana, como girafas e elefantes, reforçando a ideia de um Saara verde e habitável.
A Transição para o Deserto
Com o passar do tempo, as chuvas que sustentavam essa paisagem verde começaram a diminuir. Rios e lagos secaram, e a vegetação foi gradualmente substituída por dunas de areia. Este processo forçou os habitantes da região a migrar em busca de áreas mais hospitaleiras. Muitos se deslocaram para o Vale do Nilo, onde encontraram condições melhores para a agricultura e a criação de animais.
Implicações Culturais e Econômicas
As pinturas rupestres não só documentam a mudança climática, mas também oferecem insights sobre a vida e a cultura dos antigos habitantes do Saara. Cooper sugere que a relação entre os humanos e o gado pode ter sido mais do que econômica, possivelmente assumindo significados culturais e simbólicos. A prática da pecuária, que teria sido adotada dos povos do Vale do Nilo e do Oriente Médio entre 7.000 e 8.000 anos atrás, é evidenciada nas decorações e deformações observadas na arte rupestre.
Conclusão
A descoberta dessas pinturas rupestres de 4.000 anos é uma janela fascinante para o passado do Saara, revelando uma época em que a região era uma savana verdejante, cheia de vida e atividade humana. Estas descobertas arqueológicas não apenas ampliam nosso entendimento sobre a história climática da Terra, mas também sobre a adaptação e resiliência das antigas civilizações que habitaram essa região.