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Desenvolvendo Negócios com Frutos do Bioma para Impulsionar a Mata Atlântica Rumo ao Desmatamento Zero

A maioria dos habitantes da cidade de São Paulo conhece ou pelo menos já ouviu falar do Cambuci, uma fruta com casca verde e formato que lembra um disco voador. No entanto, não estamos nos referindo ao bairro paulistano, mas sim à própria fruta que, até a década de 1930, era tão abundante que deu nome a uma parte da região central da cidade. Embora as árvores de Cambuci tenham desaparecido na capital devido ao processo de urbanização, na Serra do Mar, elas se tornaram uma fonte valiosa de renda. Além disso, estão desempenhando um papel fundamental na preservação da Mata Atlântica, que também se beneficia do manejo sustentável do cacau e do açaí-juçara.

A Contribuição da Bioeconomia para a Preservação da Mata Atlântica

“A bioeconomia pode ser a chave para a Mata Atlântica se tornar o primeiro bioma do Brasil a atingir o desmatamento zero”, afirma Luís Fernando Guedes Pinto, engenheiro agrônomo e diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica. Ao contrário da Amazônia, onde o foco está na manutenção das florestas em pé, na Mata Atlântica, o esforço vai além da conservação dos 24% restantes do território original; busca-se também a recomposição do que foi perdido. “O objetivo é plantar a floresta para criar empregos, gerar renda, fornecer alimentos e matéria-prima”, enfatiza Pinto.

De acordo com um estudo publicado em 2022 na revista britânica People and Nature, editada pela British Ecological Society, o Brasil poderia criar até 2,5 milhões de empregos ao cumprir a meta de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. Esses empregos estariam relacionados ao plantio, à coleta de sementes, à produção de mudas e a serviços técnicos, como consultoria, elaboração de projetos e monitoramento.

O Sucesso do Cultivo de Cambuci na Geração de Renda

No caso do Cambuci, o cultivo garante o sustento de uma rede composta por 40 produtores, que impactam positivamente a economia de mais de 20 municípios paulistas. Fundada em 2009, a Rota do Cambuci promove festivais gastronômicos em torno da fruta, principalmente nas cidades da região da Serra do Mar Paulista. Desde 2014, a iniciativa já comercializou 150 toneladas da fruta e impulsionou o plantio de mais de 70 mil árvores nativas do bioma. Cada cambucizeiro produz aproximadamente 300 quilos da fruta por ano.

A maioria dos pequenos produtores concentra suas vendas em feiras, que atraem anualmente mais de 100 mil pessoas, conforme dados do Instituto Auá, responsável pela Rota do Cambuci. “O maior desafio é vender um produto desconhecido em um mercado que ainda está em desenvolvimento”, admite Gabriel Menezes, diretor do instituto. As vendas online têm desempenhado um papel importante nesse processo: geleias, licores e cachaças feitas com a fruta podem ser encontrados, por exemplo, na seção de produtos sustentáveis do Mercado Livre.

O Sucesso de Negócios Locais

Morador de São Lourenço da Serra, que está a 55 quilômetros da capital, Nilson Máximo, de 52 anos, compra a colheita das famílias de sua comunidade e processa a fruta para criar uma variedade de produtos, desde conservas caseiras de berinjela ou abobrinha com Cambuci até farofas e molhos de salada feitos com a fruta. Graças aos festivais, Máximo e seu sócio faturam cerca de R$ 6 mil mensais. “Como temos uma vida simples na zona rural, o custo de vida é mais baixo. A gente vive bem apenas com essa renda”, diz Máximo.

Neste contexto, fica claro que os negócios sustentáveis baseados nos frutos do bioma, como o Cambuci, têm o potencial de não apenas gerar renda para comunidades locais, mas também contribuir significativamente para a preservação da Mata Atlântica. Ao promover o manejo responsável desses recursos naturais, estamos caminhando em direção a um futuro mais sustentável e alinhado com a conservação do meio ambiente.

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