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Um mês após temporal que matou 4 pessoas em São Gonçalo, moradores pedem obras em encosta e pagamento de aluguel social

Um mês depois do temporal que deixou quatro mortos e causou destruição em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, moradores que tiveram casas atingidas contam que ainda não conseguiram voltar para casa e nem receberam aluguel social. Eles pedem que obras sejam realizadas na encosta.

No bairro Engenho Pequeno, o mais atingido pela chuva, parentes das vítimas, vizinhos e voluntários que passaram mais de 50 horas nas buscas por uma família soterrada voltaram até o local ficava a casa. Pai, mãe e filha morreram.

A homenagem às vítimas é uma forma de mostrar que o Engenho Pequeno não vai esquecer as mortes.

Os corpos de AlanRosilene e a filha deles, Maitê, de 4 anos, foram encontrados dias após a tempestade. Além da família, Roseli de Castro, de 52 anos, também morreu soterrada no mesmo bairro.

“A gente sentiu a dor dos familiares, a gente sentiu mesmo. A gente se colocou no lugar deles. Cada entulho que a gente retirou, cada familiar que a gente abraçou, a gente sentiu ali a situação”, disse Caio Oliveira, voluntário e coordenador do Grupamento Especializado em Desastres Naturais.

Os voluntários leram mensagens e deixaram palavras de conforto aos parentes. Eles lembraram os momentos felizes que viveram ali.

O neto contou que tenta dar forças à avó.

“Está sendo muito difícil, porque sou só eu e minha avó. Então, eu estou tendo que ficar com ela, dar apoio emocional, tentando apoiar. Porque é muito difícil, porque ela perdeu três de uma vez. Aí, todo dia ela chora, eu tenho que confortá-la”, disse Felipe Cabral, que é sobrinho de Alan e Rosilene.

Os amigos de Felipe fizeram uma vaquinha para ajudar a família a reconstruir a vida em outro lugar.

“Eu falava com minha tia sobre a faculdade, e ela me dava apoio. Porque faculdade é um período meio difícil. Então, a gente tem que desabafar às vezes. Além de minha tia, ela era minha amiga”, disse Felipe.

Os vizinhos que viram todo o sofrimento da família vivem com medo. A rua está interditada desde o temporal. Mas muitos não receberam ainda o auxílio de R$ 600 prometido pela prefeitura.

A família de Carla Reis, que trabalha como operadora de call center, está morando de favor na casa de parentes e amigos.

“A gente está até pensando em voltar. Porque também não teve o aluguel. A gente não sabe o que fazer, a gente precisa de uma resposta. Minha mãe foi, fez a inscrição, o cadastro que tinha que ser feito. Até o momento, a gente não recebeu o aluguel social”, afirmou Carla.

A moradora completa pedindo medidas.

“Eles disseram que viria alguém da defesa civil olhar a nossa casa. Porque eles interditaram a rua, não foram só as casas, foi a rua. Então, a gente precisava que alguém viesse dar uma olhada para saber se realmente vai ocorrer interdição, quanto tempo, se eles já têm algum plano”, destacou.

A dona de casa Juliana Azevedo mora com a família em frente ao local do deslizamento. Eles chegaram a ficar em abrigos, mas tiveram que voltar para casa.

“A gente não pode ficar dentro de casa, mas vai para onde? Se não recebemos nem nada. E fazer o que? Vamos ter que ficar aqui. Quando começa a chover, aí a gente fica aqui na porta, esperando. Nem sabemos o que. E como é que vai sair?”, questiona a dona de casa.

A manicure Michele Mariano dos Santos convive com escombros no quintal.

“Falaram que teria limpeza, iam tirar pedras, fazer desvio de água. Porque, quando chove, ali atrás vira uma poça d’água muito grande. E fica umas areias movediças assim. E até agora nada. Não fizeram nada”, disse Michele.

A manicure Michele Mariano dos Santos, moradora de São Gonçalo, convive com escombros no quintal — Foto: Reprodução/ TV Globo

A manicure Michele Mariano dos Santos, moradora de São Gonçalo, convive com escombros no quintal — Foto: Reprodução/ TV Globo

Alex Santos, que é assistente de departamento pessoal, conta que já procurou órgãos como a Defesa Civil e a Secretaria de Conservação, mas que disseram que não há previsão de realização de obras de contenção da encosta.

“A gente só quer um plano, do que eles vão fazer. Se vai fazer encosta, se vai tirar essas pedras, pelo menos limpar. A gente quer uma limpeza, só isso que a gente quer. Uma limpeza e depois faz encosta. Porque, se não fizer essa limpeza e retirar essas pedras, vai ter tragédia”, afirmou Alex.

O que diz a prefeitura

A Prefeitura de São Gonçalo disse que 287 pessoas estavam em pontos de acolhimento logo depois do temporal. E que os locais foram desativados depois que as famílias receberam auxílio habitacional.

A prefeitura disse que, até agora, 127 famílias receberam o auxílio. E outras 726 estão cadastradas, aguardando laudo da Defesa Civil ou têm alguma pendência na documentação. É o caso da Carla e da Juliana, moradoras do local, segundo o poder municipal.

A Prefeitura de São Gonçalo disse ainda que a Defesa Civil recebeu mais de 1,6 mil pedidos de vistoria esse ano. E que está fazendo o trabalho em parceria com o Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro, para delimitar áreas de riscos na cidade. E só depois que esse levantamento for concluído é que o município vai conseguir determinar quantas famílias têm direito ao auxílio. Só não disse qual é o prazo para isso acontecer.

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