Rio de Janeiro diferente: da trilha no Morro Dois Irmãos às descobertas em Santa Teresa

As praias maravilhosas e as belezas naturais que enchem nossos olhos são fortíssimos atrativos do Rio de Janeiro, mas lembre-se: não são os únicos. Entre tulipas de chope gelado e pratos de casas estreladas, a cena gastronômica diversa satisfaz nosso paladar, assim como a vida cultural da Cidade Maravilhosa pulsa ao se mostrar riquíssima tanto para o mundo quanto para nosso próprio conhecimento.

A cidade foi a capital do país entre 1763 e 1960, o que deixou vários resquícios históricos que marcaram época e que sobrevivem até os dias de hoje. Assim, o Rio, com seu ambiente social, cultural e histórico efervescente, nos entrega um verdadeiro banho de programas culturais.

Seja no centro, em Santa Teresa ou até no alto do Morro Dois Irmãos, a cidade nunca nos deixa parados.

E o interessante é que novas atrações, como o Museu do Amanhã, andam lado a lado com construções seculares, como o Real Gabinete Português de Leitura, do século 19, mistura muito original que faz da cidade um local para lá de especial.

Durante as gravações do CNN Viagem & Gastronomia, decidi seguir um roteiro não convencional, que equilibrou pontos turísticos com atividades que fogem do óbvio a fim de me deixar curtir a cidade. Ao mesmo tempo que contemplei as obras de arte no Museu de Arte Moderna, por exemplo, também subi o Morro Dois Irmãos para me aventurar numa trilha que terminou em rapel pelas grandes pedras – impossível não se emocionar com as vistas!

Com o Cristo Redentor no alto do Corcovado nos recebendo de braços abertos, ir ao Rio de Janeiro sempre é uma boa ideia. Com vontade de conhecer o Rio de uma maneira diferente? Aproveite estas dicas que vão além do comum e experimente a Cidade Maravilhosa de outros ângulos:

São 350 mil livros e uma história que remonta a mais de 180 anos. Eleita uma das bibliotecas mais lindas do planeta por prestigiadas publicações ao redor do mundo, o Real Gabinete Português de Leitura é uma joia rara em pleno centro do Rio de Janeiro que merece ser visitada – e fotografada.

Suas prateleiras, os vitrais no teto que deixam transpassar a luz natural, o enorme candelabro detalhado na sala de leitura e todo o estilo arquitetônico neomanuelino são dignos de nota.

Além de absurdamente fotogênico, o gabinete também é lar de muita história: foi idealizado por um grupo de portugueses em 1837, como me explicou Francisco Gomes da Costa, presidente da instituição, para que os recém-chegados de Portugal no Brasil pudessem se informar e manter a cultura portuguesa na então capital do Império.

A sede atual foi erguida em 1880 e o interessante é notar que já foi feita com um olhar para o futuro: o interior é composto por colunas de ferro, mirando em atenuar quaisquer acidentes ou incêndios. Os pisos dos andares superiores também são de ferro vazado e as estantes são trabalhadas em madeira.

Além destes detalhes virtuosos, o gabinete, hoje uma biblioteca pública, possui em seu acervo obras de valor imensurável para a cultura mundial: aqui há a primeira edição de “Os Lusíadas”, artefato datado de 1572, e também os manuscritos do romance “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco – porém, por motivos de segurança e conservação do patrimônio, os objetos ficam guardados no cofre. Coloque no roteiro: a visitação ocorre apenas em dias úteis, das 10h às 16h.

Nas areias de Ipanema, o Morro Dois Irmãos completa a paisagem carioca de maneira imponente. Se do chão o morro já é especial, é em cima dele, com vistas em meio a natureza para os cartões-postais, que lembramos porque o Rio é chamado de Cidade Maravilhosa.

Assim, subir até o topo do “irmão maior” é uma das atividades mais espetaculares que já fiz e que foge de um roteiro tradicional.

Com roupas devidamente confortáveis, a aventura começa na base do Vidigal, onde pegamos um mototáxi na entrada da comunidade e, após cinco minutinhos, chegamos até o começo do trajeto, atrás do campo de futebol da Vila Olímpica do Vidigal.

Junto de Thales Wil, guia de turismo local, subi cerca de 1,5 km em aproximadamente 50 minutos de caminhada. Apesar dos trechos íngremes, a trilha é considerada fácil, e andamos entre duas comunidades: o Vidigal e a Rocinha.

Durante a subida, a dica é caminhar com passos mais curtos para evitar cansaço excessivo e escorregões. Há também placas que indicam o percurso e reforçam boas práticas – como não jogar lixo no chão.

Em uma das paradas, conseguimos ter uma visão privilegiada de São Conrado, e, mais adiante, podemos ver toda a Rocinha até a Pedra da Gávea, no lado oposto ao mar. São mais cinco minutos de caminhada a partir deste ponto até chegarmos ao cume.

Uma vez no pico, entendemos novamente a grandeza do tamanho e da beleza desta cidade. A vista recompensadora nos presenteia com paisagens do Cristo, do Jockey, da Lagoa Rodrigo de Freitas, das praias da Zona Sul – Ipanema, Leblon, Copacabana – e do Pão de Açúcar.

Mas a aventura não para por aí: para os mais corajosos, o rapel também é uma opção. Com os equipamentos devidamente no corpo, como cordas, cordelete e capacetes, as preparações dão lugar ao coração acelerado e a respiração mais ofegante.

De repente estou na ponta da pedra no pico do morro, uma sensação inigualável. Com passos lentos para trás, vamos pulando aos poucos e, a partir daí, o medo dá lugar à diversão. É definitivamente uma sensação de adrenalina muito boa.

Assim, fazer a trilha é uma maneira diferente de conhecermos e enxergarmos a cidade – uma coisa que sempre quis mas nunca tinha feito no Rio, em que nos sentimos pequenos diante de tanta natureza magnífica.

No Parque do Flamengo, entre o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial e o Aeroporto Santos Dumont, fica este que é um dos mais importantes dispositivos culturais do Brasil. Inaugurado em 1948 por uma iniciativa de empresários, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) é um verdadeiro banho de cultura e arte.

Muito importante no cenário carioca e no mundo, pesquisadores, curadores e artistas de vários países consultam a área de pesquisa e o acervo. Em números, o MAM possui hoje cerca de 16 mil obras; sua biblioteca tem 220 mil itens, sendo 31 mil títulos; e há quase 10 exposições no calendário anual.

Todos estes artefatos, linha de pesquisa e agenda transformam o MAM num museu dinâmico e vivo, onde até a própria construção reflete isso: o edifício-sede é um marco na arquitetura moderna projetado pelas mãos do arquiteto Affonso Eduardo Reidy.

Os jardins do museu são de responsabilidade de ninguém menos do que Roberto Burle Marx e suas paisagens são impressionantes, com vistas privilegiadas para a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar.

Além de suas obras de arte importantíssimas, com pinturas de Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, assim como trabalhos de Hélio Oiticica e Maria Martins, o interessante é que o MAM é pautado no tripé arte-educação-cultura, até com programas de residência de artistas, pesquisadores, curadores, professores e profissionais com deficiência.

É definitivamente um lugar incrível para apreciar grandes nomes da arte brasileira e do mundo e ficar impactado com a beleza que ronda o local. O acesso ao MAM é gratuito, mas vale ressaltar que os visitantes podem contribuir com qualquer valor, com a sugestão de R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia-entrada.

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