Os trens do ramal Guapimirim da Supervia estão parados há mais de um mês. No ano passado, as composições que realizam esse trajeto ficaram paradas por seis meses. Agora, o problema é estrutural em uma das pontes do percurso.
Os passageiros contam que ficaram sabendo da suspensão do ramal, de repente, quando o trem simplesmente não apareceu na estação.
“Tiveram pessoas que sentaram e o trem não passou. E veio de boca a boca : não vai ter trem”, lembra a professora Sandra Alves Demétrio.
Estações do ramal Guapimirim que estão paralisadas:
- Parada Ideal
- Jardim Guapimirim
- Parada Modelo
- Parada Bananal
- Guapimirim
Mas agora, quem mora na região depende de ônibus, como o barbeiro Ailton Vieira Júnior.
“Tudo que a gente vai fazer aqui na cidade, em deslocamento de um bairro para o outro, a gente faz no trem. Porque o ônibus não tem horário certo. A passagem é muito mais cara. Era uma utilidade que a população usava”, disse Vieira Júnior.
Nem sempre a aposentada Maria Lúcia da Silva Souza tem o dinheiro da passagem. Ela está tratando duas úlceras na perna. E está há três semanas sem ir ao médico.
“Tenho duas úlceras na perna. Sem o trem está ficando difícil. Nem todo dia tenho dinheiro. Ônibus muito caro. E nem sempre a gente tem R$ 1 para sair quanto mais R$ 3,70. Está prejudicando muito o meu tratamento. Tem três domingos que não faço avaliação da perna”, contou a aposentada.
A comerciante Margarete Cristina dos Santos circula o dia todo de bicicleta, com o neto Gustavo segurando firme na garupa. Uma atividade que nem sempre é fácil.
“Escola, médico, comprar alguma coisa, mercado, tudo era o trem. E hoje tudo é minha bicicletinha. Teve um dia que estava chovendo, não tinha o dinheiro da passagem. Por esses dias, meu filho me levou e voltei a pé da Parada Modelo. Porque a bicicleta também não aguenta ir até Guapimirim”, contou a comerciante.
Sem o trem, o motorista Moisés do Espírito Santo tem visitado pouco a mãe.
“Agora, tenho que me virar de bicicleta ou a pé. Minha mãe mora onde o trem passa. Quase não tenho ido lá porque o trem não está rodando. Se for, tenho de gastar de passagem cerca de R$ 7”, disse o motorista.
Ficar sem o principal transporte da cidade virou rotina em Guapimirim. Em julho do ano passado, o RJ1 mostrou que moradores já enfrentavam a falta de trens. Naquela época, o ramal Guapimirim estava paralisado desde março por causa da pandemia.
A Supervia disse que era uma situação temporária e que dependia da Secretaria Estadual de Transporte para o retorno do serviço. A secretaria rebateu dizendo que a paralisação se devia à baixa demanda de passageiros e prometeu que, ainda em 2020, um projeto de engenharia seria contratado para revitalizar o ramal.
Um mês depois, a Assembleia Legislativa (Alerj) aprovou um decreto legislativo determinando que os trens de Guapimirim voltassem a funcionar no dia 1º de setembro.
Em abril deste ano, a Supervia comunicou que o ramal seria paralisado novamente, por motivo de segurança. A nota diz que após vistorias técnicas realizadas, foi confirmado que uma das pontes existentes ao longo da extensão Guapimirim, não deve ser utilizada para a circulação dos trens. A previsão de retorno é 31 de outubro.
Segundo a Supervia, a ponte que liga a Parada Ideal à Parada Modelo teve de ser interditada depois por causa dos problemas apresentados após as fortes chuvas de abril. A concessionária já contratou a empresa que vai realizar as obras e que os passageiros estão sendo informados por meio dos canais de relacionamento.
A Secretaria Estadual de Transporte disse que a responsabilidade pelas pontes é da Supervia e que os usuários estão sendo atendidos por ônibus municipais e intermunicipais.
Já a agência reguladora Agestransp abriu processo regulatório para apurar as responsabilidades da Supervia. E que a suspensão do ramal e a falta de manutenção podem gerar multas por descumprimento de contrato.