A mudança ministerial anunciada no sábado pelo presidente do Paraguai para acabar com os protestos que pedem sua renúncia desde a sexta-feira não teve efeito imediato. Os manifestantes foram às ruas neste domingio, 7, pelo terceiro dia consecutivo, afirmando que só param os atos quando Mario Abdo Benítez e o vice-presidente, Hugo Velázquez, deixarem os cargos.
“Fora Marito (como é chamado o presidente paraguaio). Até que (você) renuncie, todos os dias (estaremos nas ruas)” e “chega de roubar e matar o povo. Fora Marito”, foram gritos entoados ontem perto da residência presidencial, no centro de Assunção. O quarteirão foi bloqueado por policiais.
Além de exibir cartazes e bandeiras do Paraguai, os manifestantes colocaram um megafone perto da residência presidencial para que pudessem amplificar suas denúncias e insatisfações com o governo conservador.
Um ano após a detecção do primeiro caso de covid no Paraguai, a gestão da pandemia pelo governo tem sido contestada pela população em razão da demora na chegada de vacinas contra a covid-19 e da falta de medicamentos para tratar pacientes internados com a doença nas Unidades de Terapia Intensiva.
Dias depois de decretada a quarentena em 2020, o governo Benítez conseguiu um empréstimo de US$ 1,6 bilhão para enfrentar a pandemia e a gestão era elogiada.
Um ano depois, 4 mil doses da vacina Sputnik V foram aplicadas em profissionais da Saúde, ou seja, menos de 0,1% da população. Na tarde de sábado, chegaram ao país 20 mil doses da Coronavac enviadas pelo Chile, governado pelo conservador Sebastián Piñera.

Com uma população de 7 milhões de habitantes, o Paraguai registrou 165 mil casos de covid-19 e 3,2 mil mortes em decorrência da doença. O país tem registrado números recordes de novos casos: na semana passada foram 115 a cada 100 mil habitantes.
Ainda na sexta-feira, primeiro dia de protestos, o ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, renunciou. No sábado, em resposta aos atos, Benítez anunciou a saída dos ministros da Educação, da Mulher e da Casa Civil. O Ministério da Saúde anunciou também a criação de novos leitos para atender a demanda de internações de pacientes com a covid-19. Para as UTIs serão destinados ao menos 10 novos leitos.
Crise de saúde
A convocação para o protesto da sexta-feira foi feita após o sindicato de enfermeiras e parentes de pacientes realizar nesta semana outras manifestações para denunciar a falta de suprimentos e materiais médicos nos hospitais públicos, especialmente entre os mais afetados pelo coronavírus.

Carlos Morínigo, pneumologista do Instituto Nacional de Doenças Respiratórias e Ambientais (Ineram), que concentra os pacientes mais graves com covid-19, disse que os hospitais “estão trabalhando muito” e que “a situação é complicada”. “Ainda mais complicado é porque não temos cabeça (ministro). Queremos que isso seja resolvido o mais rápido possível para trazer tranquilidade aos cidadãos”, disse o médico em declarações a jornalistas.
O Ministério da Saúde garantiu na sexta-feira o forneciAmento de insumos para o tratamento de pacientes com coronavírus, segundo declarações de um porta-voz. A entidade informou que existem quase 300 pacientes em terapia intensiva e pediu à população que reduzisse as aglomerações sociais.
“Estamos em uma situação crítica. Não estamos falando em reverter as fases de quarentena, mas vamos evitar multidões. É a única coisa que pode nos salvar do colapso do sistema de saúde”, alertou Hernán Martínez, porta-voz do ministério. / AFP, REUTERS e EFE
