Os membros do Conselho de Segurança da ONU pediram, nesta quarta-feira (17), um esforço global coordenado para vacinar contra a covid-19, alertando que as grandes desigualdades nas campanhas iniciais colocam todo o planeta em risco.
Em uma incomum vídeoconferência ministerial sobre a saúde, um âmbito que não costuma ser competência do Conselho de Segurança, vários chefes da diplomacia pediram uma maior unidade para enfrentar a pandemia.
“O mundo precisa urgentemente de um plano mundial de vacinação que reúna todos os que têm o poder necessário, a experiência científica e as capacidades de produção e financeiras”, disse o chefe da ONU, Antonio Guterres, na reunião virtual.
Ele afirmou que o G20, que reúne as principais economias do planeta, está na melhor posição para criar um grupo de trabalho sobre o financiamento e a aplicação da vacinação mundial e ofereceu o pleno apoio da ONU.
Entre os 15 membros do Conselho de Segurança estão os maiores produtores de vacinas: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e Índia.
Vários ministros, como o chinês Wang Yi e o britânico Dominic Raab, pediram “mais solidariedade e cooperação”.
“Temos que nos ver como uma equipe que trabalha contra uma ameaça mortal”, disse Raab, organizador da sessão como presidente do Conselho de Segurança em fevereiro. “Estamos combatendo uma pandemia mundial” e “ninguém deve ficar para trás”, insistiu.
“Se permitimos que o vírus se espalhe como um incêndio no sul global, ele sofrerá mutações continuamente. As novas variantes poderiam ser mais transmissíveis, mais mortais e, potencialmente, ameaçar a eficácia das vacinas e dos diagnósticos atuais”, disse Guterres.
“Isso pode prolongar a pandemia significativamente, permitindo que o vírus volte a assolar o norte global”, acrescentou.
O chefe da diplomacia mexicana, Marcelo Ebrard, também criticou “uma injustiça” e “uma divisão crescente” entre alguns poucos países ricos que “monopolizam as vacinas” e o resto.
“Fazemos um apelo aos produtores de vacinas para que trabalhem de boa fé”, pediu também Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, o menor Estado a fazer parte do Conselho de Segurança.
– “A desconfiança mata” –
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, anunciou que seu país pagará mais de 200 milhões de dólares à Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Este é um passo fundamental para o cumprimento de nossas obrigações financeiras como membro da OMS e reflete nosso compromisso renovado de garantir que a OMS tenha o apoio que precisa para liderar a resposta global à pandemia”, anunciou Blinken durante a reunião.
Por sua vez, o secretário-geral da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Jagan Chapagain, alertou que “a desconfiança mata”.
“Quando a ciência não só ignora mas também ridiculariza, quando a decisão de usar máscaras se torna polêmica e a internet fica repleta de rumores absurdos, a confiança nos esforços maciços para deter a pandemia fica gravemente comprometida”, afirmou.
Henrietta Fore, diretora da agência da ONU Unicef, disse que “neste esforço histórico, devemos incluir as milhões de pessoas que vivem ou fogem dos conflitos e da instabilidade”.
Segundo Raab, são “mais de 160 milhões de pessoas”. Ele anunciou a apresentação de um projeto de resolução que pede um cessar-fogo temporário nas áreas de conflito, que Londres espera que seja adotado em breve.
A única implicação direta do Conselho de Segurança na pandemia ocorreu em julho de 2020, quando aprovou uma resolução que fomentava o cessar-fogo nos países em conflito para limitar a propagação do vírus.
A Índia e China anunciaram que seus países proporcionariam vacinas às forças de paz da ONU.
Ao denunciar o “nacionalismo das vacinas”, o ministro indiano Subrahmanyam Jaishankar disse que seu país forneceria “200.000 doses” para os capacetes azuis.