F1 2021: entenda sete pontos-chave na transição da F1 da Globo para a Band

Por mais que tenha afirmado na sexta que seguia negociando com a Liberty Media pelos direitos de transmissão da Fórmula 1, e que não era o único grupo de mídia envolvido na jogada, tudo parece se encaminhar para que a Band seja confirmada como a nova casa da categoria no país.

Essa sensação se intensificou após a notícia de que a Band teria contratado a repórter Mariana Becker menos de 24 horas depois da confirmação de que havia sido desligada da Globo. Nome muito associado à cobertura da F1, Mariana seria o nome ideal para seguir como correspondente nessa nova fase.

Os últimos acontecimentos sobre o futuro dos direitos de transmissão da F1 no Brasil criaram uma situação ideal para Band, que se viu com o caminho livre para assumir uma das categorias esportivas mais acompanhadas pelo brasileiro em um momento que busca retomar seu DNA esportivo.

Mas, para além disso, a volta da F1 para a Band deixa outras dúvidas no ar, com relação à equipe que ficará responsável pelas transmissões, o futuro de outros profissionais ligados ao automobilismo no Grupo Globo e o que será da F1TV Pro, um pedido antigo dos fãs brasileiros.

Confira na análise abaixo sete pontos-chave que estarão na cabeça de todos durante esse período de transição:

Greg Maffei, Chief Executive Officer, Liberty Media, in front of an F1 logo
© Motorsport.com Greg Maffei, Chief Executive Officer, Liberty Media, in front of an F1 logo Greg Maffei, Chief Executive Officer, Liberty Media, in front of an F1 logo Photo by: Steven Tee / Motorsport Images

Uma negociação arrastada com a Globo fez a F1 “cair no colo” da Band

Detentora dos direitos de transmissão da F1 desde os anos 1980, a Globo já vinha negociando desde 2019 com a Liberty Media, dona da categoria, pela renovação do contrato. Mas as conversas esbarravam em um fator fundamental para a emissora carioca: o valor pedido.

A Globo alegava que o valor era muito alto e não condizia com “a nova realidade mundial dos direitos esportivos”. Por isso desistiu de negociar pela primeira vez em agosto do ano passado. Mas com a negociação com a Rio Motorsports indo por água abaixo e a Liberty Media reforçando a importância do mercado brasileiro para o esporte, a Globo voltou à mesa de negociações.

Foram mais três meses de discussões e o impasse se mostrou intransponível, com a emissora carioca oficializando sua desistência nas negociações. Com isso, a Liberty passou a buscar alternativas no mercado brasileiro, com o objetivo de manter as transmissões da F1 em TV aberta, para minimizar o impacto que a mudança de canal teria na audiência global do esporte.

Segundo apurado pelo Motorsport.com, isso abriu caminho para que a Band pudesse adquirir os direitos de transmissão por um valor mais baixo do que a Liberty Media pedia inicialmente ao Grupo Globo.

Scott Dixon, Chip Ganassi Racing Honda leads
© Motorsport.com Scott Dixon, Chip Ganassi Racing Honda leads

Band vem reestruturando sua cobertura esportiva

O canal paulista sempre foi muito associado às transmissões esportivas, principalmente nos anos em que Luciano do Valle esteve entre seus narradores. O locutor, que faleceu em 2014, foi responsável pela introdução de diversas modalidades esportivas na programação brasileira e era um grande defensor da cobertura esportiva do canal.

Mas na metade da década passada, coincidindo com as negociações do Grupo Turner por parte das ações do canal, a Band passou a fugir de seu DNA esportivo, abandonando as transmissões de diversas modalidades esportivas, incluindo o Campeonato Brasileiro de Futebol, seu carro-chefe à época.

Daquele período, foram mantidos apenas poucos programas esportivos e transmissões esporádicas da Indy na TV aberta, com a maioria ficando para o Bandsports, canal de TV fechado do Grupo dedicado à cobertura esportiva.

Foi apenas nos últimos anos que o canal voltou a se dedicar a cobertura esportiva, passando a transmitir o Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol, o Campeonato Italiano, além do acordo com a Stock Car, que já valeu a transmissão da Grande Final do ano passado.

A Band busca agora se reencontrar com seu DNA esportivo, especialmente após confirmar a volta do Show do Esporte, programa dominical que, em seu auge, chegava a ter mais de 10 horas de transmissão entre programas de mesa redonda e eventos esportivos de diversas modalidades.

Por isso a Fórmula 1 se mostrou uma saída ideal para o canal, que vem intensificando sua presença na cobertura do esporte a motor. Além da Indy e da Stock Car, a Band irá transmitir a temporada completa da Copa Truck em 2021.

Como será o novo formato das transmissões?

O acordo da Band com a Liberty Media envolve mais de uma plataforma, incluindo TV aberta e fechada, além do rádio. A BandNews FM transmite há anos a F1 nas ondas do rádio e isso deve ser mantido em 2021. Mas a grande dúvida que fica é: como serão distribuídos os eventos do final de semana nos canais do grupo?

Até o ano passado, o Grupo Globo coloca no SporTV, seu canal de TV fechada, as transmissões dos três treinos livres o classificatório, enquanto a Globo ficava responsável apenas da corrida do domingo.

A Band fará o mesmo com os GPs, transmitindo os eventos dos domingos no canal de TV aberta, enquanto os treinos livres devem ser da alçada do Bandsports, já que os horários da sexta batem com um dos carros-chefe da programação da Band: o Jogo Aberto, comandado por Renata Fan. Não valeria a pena para o canal mexer em sua programação para isso, principalmente pelo fato da F1 não ser algo semanal.

A única dúvida que resta é o destino dos treinos classificatórios. Aos sábados, a programação matutina da Band é formada por infomerciais, programas infantis e um no formato “baú do esporte”.

Para o Grupo, ter a classificação em TV aberta seria um ótimo modo de alavancar sua audiência na manhã dos sábados, já que uma das principais reclamações dos fãs com a Globo era de que a emissora não dava a devida importância aos treinos classificatórios.

Valtteri Bottas, Mercedes F1 W11, and Lewis Hamilton, Mercedes F1 W11, lead the field away at the start
© Motorsport.com Valtteri Bottas, Mercedes F1 W11, and Lewis Hamilton, Mercedes F1 W11, lead the field away at the start Valtteri Bottas, Mercedes F1 W11, and Lewis Hamilton, Mercedes F1 W11, lead the field away at the start Photo by: Zak Mauger / Motorsport Images

Quem será o novo narrador da F1 no Brasil?

O narrador é a “cara” das transmissões esportivas, seja na televisão ou na rádio. São os personagens mais conhecidos pelos fãs, por causa dos bordões e da intensidade da narração nos momentos mais importantes. Por isso, são simultaneamente as pessoas mais amadas e mais odiadas pelos fãs.

Pegue Galvão Bueno por exemplo. O narrador foi a “cara” da F1 na Globo por décadas, tornando-se uma voz muito reconhecida pelo país afora por conta de seu trabalho no futebol também. Mesmo não sendo unanimidade entre os fãs, é inegável o papel que Galvão teve na popularização do esporte no país, junto com os fãs.

Por isso o narrador pode ter um papel fundamental para a Band na busca por novos fãs e patrocínio, especialmente em um momento em que não temos perspectiva de vermos o Brasil representado novamente no grid da F1.

Na transmissão da Grande Final da Stock Car, em dezembro de 2020, Luc Monteiro foi o responsável pela narração, sendo bastante elogiado pelos fãs por seu trabalho. Mas com a Band expandindo consideravelmente sua oferta do esporte a motor de um ano para o outro, com F1, Stock Car e Copa Truck, não seria interessante trazer um nome de fora para reforçar o time?

E é nesse contexto que entra Sergio Maurício. O narrador do SporTV é muita voz muito associada à F1, já que comandava as transmissões dos treinos livres e classificatórios no canal fechado. Informações de bastidores colocam que a Band tem interesse pelo narrador, podendo se tornar a “cara” da F1 no canal paulista.

Reginaldo Leme
© Motorsport.com Reginaldo Leme Reginaldo Leme Photo by: Duda Bairros

Reginaldo Leme e Mariana Becker

Enquanto a situação do narrador segue em aberto, a Band tem nas mãos grande parte da receita necessária para uma cobertura de sucesso da F1. No final do ano passado, o canal oficializou a contratação de Reginaldo Leme para a cobertura da Stock Car, um ano após sua saída repentina da Globo.

Mas agora parece que a F1 cai novamente no colo de Regi, um dos jornalistas mais respeitados na cobertura do esporte a motor no país. Com isso, ele pode ajudar a atrair os holofotes à Band, trazendo sua bagagem de quase 50 anos cobrindo a F1 em um reencontro com a categoria que o alavancou na cobertura esportiva nacional.

A outra parte da receita é Mariana Becker, que em menos de 24 horas foi dispensada da Globo e contratada pela Band. A repórter gaúcha trabalhava há 27 anos na emissora carioca e desde 2008 era uma das responsáveis pela cobertura da F1.

Ao longo dos anos, foi construindo seu nome e tornando-se um nome automaticamente associado com a categoria. Sua contratação é uma ótima jogada da Band para manter uma certa normalidade nas transmissões, apesar da mudança de casa.

Teremos F1TV Pro no Brasil?

Um tópico que circulava frequentemente nas negociações entre a Globo e a Liberty Media é com relação ao serviço de streaming da F1, o F1TV Pro, que faz uma exibição própria dos eventos do final de semana, além de contar com programetes especiais de análise dos treinos e corridas, documentários e um amplo acervo de corridas antigas da categoria.

Com a Globo focando esforços no desenvolvimento do GloboPlay, seu próprio serviço de streaming, a categoria queria um acordo que lhe permitisse transmitir sem problemas treinos e corridas exibidos pela Globo e o SporTV.

Agora com a Globo fora do caminho, a F1 se encontra em uma situação mais tranquila para colocar seu plano em prática. A grande dúvida que fica é: como serão essas transmissões? A F1 usaria o material da Band em sua plataforma ou contrataria uma equipe nova para seu serviço?

Reginaldo Leme, Luciano Burti e Sérgio Maurício© Motorsport.com Reginaldo Leme, Luciano Burti e Sérgio Maurício

Reginaldo Leme, Luciano Burti e Sérgio Maurício

Como fica o automobilismo na Globo e seus profissionais?

Em pouco mais de um ano, a Globo perdeu dois dos três carros-chefes de sua cobertura esportiva: no início de 2020 confirmou que não havia renovado os direitos de transmissão da MotoGP e agora perdeu a F1.

Com isso, a Globo passa a ter na Stock Car a sua principal categoria de automobilismo para as transmissões, apesar de estar restrita ao SporTV. Além disso, a emissora carioca possui outras categorias em seu arsenal, como a Porsche Cup e a Endurance Brasil.

Mas o Grupo conta com diversos profissionais de alto nível em seus quadros e haverá espaço para todos em sua programação? Além da situação de Sergio Maurício, o caso levanta dúvidas sobre o futuro de outros comentaristas e narradores. Basta lembrar que, assim que anunciou que não estaria mais envolvida com as transmissões da MotoGP, a Globo confirmou também as demissões do narrador Guto Nejaim e do comentarista Fausto Macieira.

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