Torcedores de Santos e Palmeiras já se mobilizam para vir ao Rio para a final da Libertadores, neste sábado (30), no Maracanã. Especialistas ouvidos pelo G1 alertam que essa movimentação de gente de todo o Brasil pode trazer variantes do coronavírus que ainda não circulam entre os cariocas.
Os infectologistas lembraram que a mutação brasileira registrada primeiro no Amazonas — que levou ao recente colapso na rede de saúde de Manaus — já chegou a São Paulo.
Todas as 33 regiões administrativas da cidade do Rio seguem com risco alto para Covid-19, segundo o quarto boletim epidemiológico da Prefeitura do Rio, divulgado nesta sexta-feira (29).
Durante a divulgação do boletim, o prefeito Eduardo Paes e o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disseram que têm acompanhado a variante brasileira do coronavírus primeiramente identificada em Manaus.
Segundo eles, alguns estudos estão sendo feitos, mas ainda não há confirmação de nenhum caso no Rio.
“A mutação do vírus está sendo acompanhada pelos nossos institutos de pesquisa da Fiocruz, UFRJ, e qualquer alteração obviamente a gente vai avisar”, disse Soranz.
Ações previstas
A Prefeitura do Rio, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros afirmam que programaram ações para evitar aglomerações e garantir a segurança no entorno do estádio.
A Secretaria Municipal de Saúde acrescentou que a Vigilância Sanitária e a Secretaria de Ordem Pública “estarão de sobreaviso em locais já conhecidos por apresentar aglomerações em datas comemorativas”.
Mas, até a última atualização desta reportagem, não estavam previstas barreiras nas estradas — apenas ruas no entorno do Maracanã terão bloqueios para a final da Libertadores.
Santos e Palmeiras decidem o título às 17h, e 5 mil pessoas credenciadas poderão assistir ao jogo no estádio — o equivalente a 10% das arquibancadas —, conforme decreto do governador em exercício Cláudio Castro. Não houve venda de ingressos.
Maracanã não recebe torcedores há quase um ano — Foto: Thiago Ribeiro/Agif/Estadão Conteúdo
Maracanã não recebe torcedores há quase um ano — Foto: Thiago Ribeiro/Agif/Estadão Conteúdo
O que dizem os especialistas
“É um desastre! A cidade deveria estar fechada, e o campo idem”, afirmou Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
“Todos os casos que ocorrerem a partir desse dia serão da responsabilidade do governador. Ele está brincando com a morte, e os idiotas que vão ao Rio deveriam ser bloqueados na estrada”, pontuou.
Para Raquel Muarrek, infectologista do Hospital São Luiz e do Emilio Ribas, ambos de São Paulo, “caravana já mostra um problema de aglomeração”.
“Se você é a favor de um isolamento, você não pode liberar um jogo com um nível de torcedores que seja. Independentemente do número, é um aglomerado, não tem jeito”, disse.
“Você não pode considerar só dentro do Maracanã; você tem que considerar fora também e o ir e vir das pessoas”, emendou Raquel.
“O ideal é restringir o número de pessoas, não ter torcedor neste momento de fase vermelha, de gravidade”, destacou Raquel.
Roberto Medronho, epidemiologista da UFRJ, teme o impacto de mutações do coronavírus no Rio. “O Instituto Adolfo Lutz confirmou [em São Paulo] a presença da variante do Amazonas, que parece ser muito mais infecciosa, mais transmissível”, lembrou.
“Se algum desses torcedores que se aglomerarem na frente do Maracanã — e vão passar o dia no Rio, indo a vários locais — tiver essa variante, isso pode trazer esse vírus”, disse.