Inocentes de Belford Roxo fala do cangaço com a ajuda de materiais recicláveis

Aquela garrafa de refrigerante encostada ou panela velha pode fazer sucesso na Marquês de Sapucaí. Driblando a crise, a Inocentes de Belford Roxo está usando materiais recicláveis em três das quatro alegorias que a escola levará para a avenida este ano. Para ajudar a compor o trabalho, o carnavalesco Marcus Ferreira pede doações para quem puder contribuir com a escola.

As imagens que ilustram essa reportagem são exclusivas e dão uma amostra do resultado da transformação dos objetos. Os torcedores e a comunidade têm se mobilizado oferecendo todo tipo de utensílios, mas a escola precisa de mais.

“Eu acho que é importante ajudar o carnaval em um ano que a gente não está contando com o poder público. Estamos fazendo um carnaval com muito sacrifício. As escolas são um patrimônio do Rio, ajudam a alavancar a cidade”, analisou, Marcus.

A Inocentes falará sobre o cangaço, fazendo um paralelo com os dias atuais e oferecendo aos espectadores do espetáculo uma inspiração cinematográfica. No enredo “O Frasco do Bandoleiro”, tema da escola da Baixada Fluminense, a agremiação fará um paralelo entre as crendices de pessoas que guardavam fortunas enterradas em seus quintais no Nordeste do país e cenas de casos atuais de corrupção.

O carnavalesco da Inocentes de Belford Roxo, Marcus Ferreira — Foto: Inocentes de Belford Roxo/ Divulgação

O carnavalesco da Inocentes de Belford Roxo, Marcus Ferreira — Foto: Inocentes de Belford Roxo/ Divulgação

13 mil garrafas PET

A inspiração para transformar lixo em luxo é a obra do artista plástico Vik Muniz, famosa por utilizar materiais considerados inusitados na confecção de obras de arte, como materiais que iriam para o lixo, restos de demolição e até alimentos, como chocolate.

O projeto do abre-alas exige 13 mil garrafas pet para fazer o acabamento. Depois do desfile, elas serão recicladas. A escola de samba garante que nenhuma delas será jogada no meio ambiente. Mas mesmo com a mobilização da comunidade, a Inocentes precisa de ajuda para finalizar o projeto.

“Fizemos um levantamento anteontem e faltavam ainda três mil garrafas pet”, destacou Marcus Ferreira.

O segundo carro faz uma conexão entre o Nordeste do Brasil e a Baixada Fluminense. A alegoria usa caixotes de madeira de feiras livres de Belford Roxo, berço da escola.

O último carro, que fala sobre o declínio do cangaço, lembra a morte de Lampião e parte de seu bando no Sergipe. Essa alegoria leva panelas velhas, garrafas, baldes e outros utensílios que seriam descartados. “O pessoal tem trazido, mas a gente precisa de mais”, ressaltou o carnavalesco, afirmando que podem ser de qualquer material.

Detalhe de alegoria da Inocentes de Belford Roxo — Foto: Marcus Ferreira/ Arquivo pessoal

Detalhe de alegoria da Inocentes de Belford Roxo — Foto: Marcus Ferreira/ Arquivo pessoal

Tradição em reciclagem

Com experiência nos carnavais da série A, Marcus Ferreira já passou pela Estácio de Sá, Renascer de Jacarepaguá, União do Parque Curicica, Acadêmicos da Rocinha e, em 2017, fez o carnaval que levou o Império Serrano de volta ao Grupo Especial, com o enredo” Meu quintal é maior do que o mundo”. Para ele, reaproveitar materiais não é uma novidade.

“A base do carnaval da série A sempre foi a reciclagem. A gente aproveita o material das escolas do Grupo Especial do ano anterior e recria”, destacou o carnavalesco.

Com o projeto, o próprio Marcus também passou a garimpar materiais nas ruas.

Este ano, a Inocentes de Belford Roxo também está aproveitando tecidos, esculturas e outros materiais da Grande Rio, Paraíso do Tuiuti e da Imperatriz Leopoldinense.

Como ajudar

Os interessados em doar materiais para ajudar na construção dos carros da Inocentes de Belford Roxo até o carnaval podem entregar na quadra de ensaios, na Avenida Boulevard, 1741, em Belford Roxo, às quartas e sextas, das 10h às 20h. Outro lugar onde as doações podem ser entregues é o barracão da escola, na Avenida Binário, 280 – sentido Rodoviária Novo Rio – diariamente das 10h às 17h.

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